segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

As mártires da bunda



O Brasil está assistindo o nascimento de um novo tipo de mártires, as mártires da bunda. Há alguns meses uma aluna de uma faculdade particular, Gleyci foi hostilizada por usar um vestido curto. Bem curto. Muito se falou dos agressores, mostrados como selvagens intolerantes, mas pouco ou nada se falou da inconveniência das roupas da moça num ambiente universitário. Não é se de estranhar que em um país onde programas de auditório formam mais a opinião do que livros, quem dite o comportamento dentro de uma universidade seja um apresentador de TV e não um diretor de faculdade.
A outra mártir que apareceu foi a professora Jaqueline, em Salvador. Uma professora de educação infantil, que deixaria Carla Perez envergonhada com sua dança, é a mais nova atração dos programas de auditório. O despreparo dos apresentadores de TV no Brasil demonstram bem por que o país está tão atrás em matéria de ensino e cultura. Será difícil entender que uma professora de ensino infantil não pode aparecer mostrando a calcinha em com um homem a puxando (a calcinha) para cima? Parece que para os apresentadores de TV dos programas de auditório é sim muito difícil entender isso.
Existem condutas que são inconvenientes para algumas profissões. Uma professora não pode ficar expondo publicamente o seu corpo; isso não é hipocrisia, isso é proteger as crianças para quem ela está dando aula. Existem lugares em que não se pode entrar de bermuda ou de saia curta. Isso não é falso moralismo, é saber separar as coisas. O hedonismo brasileiro se mostra doentio e inconseqüente, na medida em que tenta passar por cima de tudo e não respeita nada
Qual a origem disso no Brasil? Talvez a única instituição sagrada ao sul dos trópicos: o sexo. Qualquer um que ousar desafiar o sexo livre no Brasil é logo taxado de hipócrita ou de falso moralista. Por mais escandaloso que seja qualquer comportamento este deve ser respeitado.
Interessante foi ver uma estranha manifestação de estudantes da UnB, em sua maioria provenientes das ciências humanas, que lutavam pelo direito de Gleyci usar sua microsaia. As mesmas feministas que acusam os homens de explorar o corpo da mulher estavam lá protestando pelo direito da mulher de ela mesma explorar seu corpo. Parece que tem gente que nasceu para reclamar.
O que esses dois acontecimentos têm em comum? Ensino e sexualidade. Uma aluna, Gleyci e uma professora, Jaqueline. Duas mártires e dois vilões: os diretores de faculdade e de escola. É claro que num país como o Brasil, pobre, não se recursos, mas de espírito em um embate entre educadores e dançarinas, saem perdendo os educadores. Estudar é coisa de nerd e combater a ignorância é coisa de falso moralista. Balanço geral: prováveis processos contra duas instituições de ensino que não se curvaram a mediocridade e duas prováveis capas da playboy.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cotas para negros em universidades


Existem assuntos em que uma opinião moderada é vista como a melhor forma de pensar, por representar um equilíbrio e por evitar radicalismos. Existem também questões onde é impossível uma posição conciliatória, sendo exigida dos interlocutores uma postura clara.
Dentre esses assuntos figura um tema polêmico, mas que merece a nossa atenção: as cotas para negros em universidades públicas. Devemos ter em vista, antes de mais nada, que a maioria das pessoas que discutem o assunto são sinceras em suas opiniões e convicções e que os argumentos dos dois lados tem validade.
Existem argumentos válidos e argumentos sem nexo dos dois lados da trincheira. Meu objetivo com esse pequeno post é contribuir com esse debate. Como é de se esperar, escolho um lado e o defendo, sem por isso ofender as mentes discordantes com adjetivos tais como ignorantes, canalhas, burros, cegos. São pontos de vista. Vamos então a mais uma opinião sobre o tema.
É de conhecimento geral que para o Brasil foram trazidos milhões de africanos entre os séculos XVI e o XIX com o fim de serem utilizados para toda a sorte de trabalhos. Esse trabalho era escravo e é importante ressaltar que esses africanos vieram para cá contra sua própria vontade. Ao contrário dos europeus que para cá vieram na busca de uma vida melhor, os africanos para cá trazidos, não pediram para vir, nunca é demais lembrar.
Todos os livros do mundo não abrigariam o relato de todas as maldades que foram perpetradas contra os africanos e afro-descendentes (ou simplesmente negros) que vieram para o Brasil, então tão pouco eu quero descrever os horrores que mais de trezentos anos de escravidão causaram a tantas pessoas.
Ao fim da escravidão, sobrou para essas populações escravizadas uma porteira aberta e uma pretensa liberdade, acompanhadas, quase sempre, de fome, desemprego e, muitas vezes, morte. Depois de séculos de trabalho duro sem recompensa esses negros foram despejados de seus “lares” sem nenhum direito ao fruto do que construíram.
Uma coisa que ninguém duvida é que existe uma grande dívida da sociedade brasileira para com o negro. É fato que hoje no Brasil os negros desfrutam de índices baixos de desenvolvimento social, se comparados aos brancos. Não dá para simplesmente dizer que o fator cor (e não raça) deve ser excluído dessas avaliações. Por mais que nossa sociedade não tenha uma distinção étnica tão nítida como a estadunidense o racismo existe e se manifesta em vários momentos do cotidiano. Declarar que vivemos em uma democracia racial é algo que só um “branco” que nunca sentiu na pele o que é racismo pode afirmar. Não existe democracia racial no Brasil.
Muitos dos que defendem que não deve haver cotas para negros se baseiam nessa premissa. Outros ainda dizem que se forem criadas e mantidas as cotas para negros, aí sim o racismo reinará entre nós. Isso não é verdade. O que causa o racismo no Brasil não é a segregação, mas a disparidade social. O cerne do problema é que o racismo marginaliza o negro e a marginalização do negro renova o racismo, num eterno ciclo vicioso que precisa ser rompido.
O brasileiro precisa se acostumar a ver negros advogados, médicos, dentistas, professores, etc. Isso é de fundamental importância para o combate ao racismo. Precisamos nos acostumar com isso, ver isso. Não adianta dizer que existem oportunidades iguais para todos. Não existem. A baixa auto-estima que o racismo e a miséria causaram a grandes parcelas da população negra no país são as causas, as únicas causas de os negros obterem notas menores nas escolas e conseqüentemente, nos vestibulares. A outra hipótese seria a infeliz crença na superioridade de algumas raças sobre outras. Creio que ninguém hoje advoga tal maligna doutrina.
Um argumento que se ouve muito é que o que deve ser feito é uma política de cotas para alunos provindos de colégios públicos. O que se deve ver aí, entretanto é que tal política seria uma política de combate a pobreza, sendo que as cotas de negros nas universidades públicas são claramente uma política de combate ao racismo. Por favor, não confundamos as coisas. Negros e pobres são coisas diferentes. Essa política visa a proteger e melhorar as condições de vida dos negros. Existem outras políticas de combate a pobreza essa não é uma delas.
Da mesma forma em que os negros vieram à força, sem querer, eles agora devem entrar nas universidades públicas a força. Existe essa dívida e ela deve ser paga, sob pena de perpetuarmos por mais gerações o racismo, a marginalização de muitos dos nossos brasileiros e a violência urbana.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O tamanho do Estado


Maquiavél é lembrado hoje e há muito tempo como o teórico que cinicamente separou a moral da política. Nesse artigo, porém, será abordada uma outra inovação do tão incompreendido pensador: o conceito de Estado. Na teoria política moderna foi Maquiavél que popularizou o termo “Estado” como usamos hoje.
A maioria dos teóricos e politólogos concorda que existem alguns elementos que caracterizam o Estado. Podemos citar dentre eles a existência de um território, de uma população, de uma administração e de um poder soberano.
No séculos XVII e XVIII foi muito intenso o debate sobre os limites do poder do Estado e dos soberanos. Hobbes, Rousseau, Locke, Montesquieu e outros grandes homens discutiram sobre até onde o poder poderia chegar, sobre os direitos dos povos de resistir ao soberano e ao Estado e sobre a divisão dos poderes dentro desse Estado.
Principalmente, a partir do Século XX as discussões começaram a girar em torno do tamanho do Estado. O modelo liberal-burguês venceu (principalmente após a II Guerra Mundial) e as outras questões foram postas como ultrapassadas.
O capitalismo se desenvolveu tanto que chegou a ameçar o Estado moderno. Seria esse o fim do Leviatã? Um Estado mínimo, que cuidasse apenas do que é chamado “núcleo estratégico do Estado” como por exemplo a diplomacia, segurança e justiça faz parte da utopia liberal. Até saúde e educação seriam relegados aos particulares. É a lógica do “que vença o melhor”. Assim, os melhores, os mais bem-sucedidos , os mais esforçados teriam como recompensa por seu trabalho uma vida com riqueza de sobra enquanto que os preguiçosos seriam punidos com a pobreza.
Essa lógica esbarra em alguns contrasensos. O primeiro é que nem sempre são os mais brilhantes ou os mais trabalhadores os mais ricos. Na maioria das vezes os mais ricos são os descendentes dos mais brilhantes e dos mais trabalhadores, são os herdeiros. Será que esses “mais capazes”, a nata da sociedade, estaria disposta a renunciar o direito de herança, o direito de passar o que é seu para seus filhos, em troca dessa pretensa justiça? Pois se é justo que os melhores sejam ricos então vejamos como os filhos dos ricos se saem. Assim, para serem coerentes, os liberais deveriam provar que são capazes e não que seus pais e avós foram capazes.
Outro furo nessa teoria que chamo aqui de “que vença o melhor” é que esses mesmo liberais que são contra o uso do Estado para obras assistenciais, para o combate a pobreza, para o combate a fome, para programas habitacionais e para programas sociais em geral, são também a favor de financiamentos de seus projetos. O Estado serviria para fomentar a economia. Com créditos e outras facilidades haveria a industrialização e o incremento de atividades produtivas que empregassem essas pessoas.
Vamos ver se nós entendemos o que é proposto. O Estado não deve servir para o combate a pobreza, por que isso não é de sua conta, mas esse mesmo Estado pode e deve servir para aumentar a produtividade dos ricos. Ou seja, o Estado deve ser mínimo para quem mais precisa, mas deve ser, como é mesmo a expressão que os liberais usam, perdulário, obrigado para com os ricos.
Ou o Estado serve a todos ou não serve a ninguém. Se os ricos são ricos por que são tão superiores e tão merecedores, então certamente não precisam do Estado. Afinal, quem é que é vagabundo nessa história toda?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Símbolos do Brasil


Em geral, os países, os povos, as nações, têm símbolos que são trazidos a mente quando estes são mencionados. Esses símbolos e emblemas servem para construir uma imagem de determinado país para os de fora.
Assim, temos por exemplo a imagem dos americanos. Auto-confiantes, arrogantes, modernos, beligerantes, bons negociadores, dentre outros. Os “yankes” têm como símbolos a águia, o cowboy, o piloto de caça, o rebelde sem causa, com jaquetas pretas e topete, o patriotismo, a bandeira. Isso logo nos vem a cabeça quando se trata do “tipo ideal” norte americano, para usar um antigo instrumental teórico.
Com relação aos russos nós imaginamos pessoas truculentas, duronas, que expulsaram Napoleão, Hitler e ainda hoje não se dobram aos pés dos seus antigos rivais de guerra fria. Seu animal símbolo é um urso.
Dos chineses pensamos que são sábios, milenares e donos de algumas das maiores invenções que a humanidade já criou, como a pólvora por exemplo. A sabedoria chinesa teria também legado ao mundo o livro “a arte da guerra”, de Sun Tzu. Seguindo o racioncínio termos os japoneses, que também tem o estigma da sabedoria. Seus guerreiros são lendários: Samurais, ninjas, e kamikazes.
Entre os europeus vemos vários símbolos nacionais como mosqueteiros franceses, soldados alemães, legionários romanos, desbravadores espanhóis e vários outros. Quando pensamos em árabes imaginamos cemitarras e conquistadores da Jihad.
Mas e entre os brasileiros? Se queremos nos tornar um player no concerto das nações, virar um grande país com acento no conselho de segurança da ONU, precisamos reformar nossa sociedade como um todo. A solução é olística. Se quisermos ser um império precisamos romper com nossa tradição colonial. No coração ainda estamos de joelhos.
Sim, símbolos. A mulata. Lindas mulheres negras tem colorido o nosso cotidiano, sorte nossa. Parece, no entando que tudo o que nós temos de bom precisa ser compartilhado com os “gringos”. Tudo o que nós temos é bom demais para termos sozinhos e então fazemos o que? Prostituímos nossas mulheres e as oferecemos aos estrangeiros. Esse orgulho em oferecer as brasileiras aos de fora é algo tão subserviente. O país se torna assim um grande bordel, ao invés de potência, somos cafetões do meretrício chamado Brasil.
Urso, águia, leão, galo? Não, papagaio. Sem mais comentários sobre isso.
E o tipo ideal do brasileiro, qual é? Um malandro carioca que passa seu tempo tentando ludibriar as pessoas com o amável “jeitinho brasileiro”. Ao meu entender ,esse jeitinho brasileiro tem um nome mais curto: desonestidade. Quem elegeu os cariocas como representantes do espírito brasileiro? Ficarímos melhor se o nosso tipo ideal fosse um capoeirista, um gaucho, um cangaceiro ou um bandeirante. É claro que nosso animal deveria ser a onça. Seriamos mais respeitados se nos mostrassemos como nação soberana ao invés de um circo de diversões para euro-americanos. É claro que o maior palhaço nisso tudo sou eu e você.
A mudança deve ser total. Mudemos nossos símbolos. Ou nos tornamos uma grande nação ou permanecemos um prostíbulo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Roriz e o PSC


Interrompo aqui a série sobre as candidaturas possíveis às eleições 2010 para presidente da república para tratar de um assunto sério. Também interrompo o meu distanciamento para demonstrar claramente a minha opinião. O bom de ter um blog é que podemos ter opinião independente e independente até mesmo do leitor, que lê se quiser. O assunto agora é a candidatura de Joaquim Domingos Roriz.
Quem é do Distrito Federal conhece bem essa figura. Por muitos anos as eleições ao governo do DF se polarizaram entre o partido PT e qualquer que fosse seu candidato e o candidato Roriz e qualquer que fosse seu partido.
Durante mais de uma década, se for contados todos os seus mandatos (quatro) Roriz e, diriam alguns, mas não eu, sua quadrilha incharam a cidade e trouxeram o aumento vertiginoso da violência. Hoje é muito comum se falar em estupros, sequestros-relâmpagos e engarrafamentos. Mas que culpa tem ele, a culpa é nossa pois viviamos num lugar bom demais para ser verdade. Não vivemos mais.
O que vai ser dito aqui todo mundo que mora por essas bandas já sabe: Roriz inchou a cidade trazendo pessoas de fora para votarem nele, a maioria dos brasilienses votava contra. Ah, permitam-me a ousadia, vários daqui votavam nele por que recebiam empregos, cargos comissionados. A máquina pública era inchada, tudo era inchado. Como diz o ditado, quem se vende sempre recebe mais do que vale. Essa parcela da classe média que se vendeu recebeu em violência urbana seu quinhão nesse mar de lama. Abismo atrai abismo.
E já que citei a Bíblia, vamos falar sobre para onde o nosso querido coronel do DF foi. Para o PSC. Nada mais cristão. Por um tempo eu pensei que o destino do PSC seria lutar por bandeiras conservadoras como contra o casamento gay, contra o pl 122/06, contra o aborto, esse tipo de questões, mas mais uma vez o idealismo dá lugar ao sublunar, ao material. Mamon vence novamente.
Eu gostaria muito que tirassem o C de cristão do PSC, por que como cristão me sinto ofendido. Mas, essa é a vida. Acho que tem coisas que só são julgadas corretamente na morte.
Outra coisa que talvez aconteça é a entrada do Bispo Rodovalho como vice na chapa de Roriz. Se isso acontecer então aconselho que nos cultos da sara nossa terra se fale mais em prosperiadade e menos em ética. Fico triste, gosto daquela igreja. Sou protestante, mas graças a Deus que a CNBB está do lado certo.
Fazendo agora uma análise mais fria, depois do momento de indignação, vemos que a situação de Roriz não é boa, mas que o velho leão sempre tem chances reais quando as eleições ocorrem em seu curral eleitoral, o DF.
Quem detestava Roriz, continua detestando, ou seja, metade da cidade. Da outra metade que sobrou muitos viraram arrudistas e outros permanecem leais ao antigo coronel. Para virar isso, Roriz precisa vencer o anti-rorizismo de muitos, pq sua antiga base aliada está rachada. Ou seja, quem era anti-roriz tem que virar anti-arruda. Embora seja possível um anti-roriz ser mais anti-arruda, é difícil. Percebe-se então que parece ser possível que o cacique de Luziania pode estar perto de perder sua primeira eleição na vida. Se for vai ter valido a pena. Uma derrota em uma eleição seria mais gostosa do que a renúncia no senado. Talvez seja tempo de se pagar o que foi feito. O inferno não pode esperar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Candidatura: José Serra


Começo aqui uma série de artigos sobre possíveis estratégias e problemas reais de candidaturas viáveis às eleições presidenciais de 2010. Começaremos com José Serra, prefeito de São Paulo e candidato com maior porcentagem de intensão de votos atualmente (setembro de 2009). O candidato José Serra tem desafios e vantagens em uma possível disputa pelo planalto. Vejamos os desafios. O primeiro desafio que o governador de São Paulo enfrenta é interno: Aécio Neves. Há uma certa áurea mística no governador de Minas Gerais, um quê de Midas, parece que tudo o que ele toca vira ouro. Dentre todos os candidatos Aécio é aquele que consegue um maior espectro político de apoio numa empreitada ao planalto. Direita, centro e esquerda possuem quadros que apoiariam o neto de Tancredo. O grande problema do candidato mineiro é que fora do centro-sul seu nome não é muito conhecido. Embora os palanques de que disporiam Aécio fossem muitos não se sabe se o tempo de que dispõe seria suficiente para ser conhecido em todo o país. Nas eleições de 2006 o PSBD trocou a forte candidatura de Serra pela de Alkimin, na crença de que com o Horário Eleitoral gratuito o tucano emplacaria. Não emplacou, apesar do recente (2005) escândalo do mensalão. Talvez o PSDB não tente ousar dessa vez, trocando um candidato tão na frente (Serra) por uma “boa possibilidade” (Aécio). Vencendo Aécio, este deve ser incorporado a campanha. Como admoestava Kissinger, ex-secretário de Estado norte-americano, os inimigos vencidos deveme ser integrados e não marginalizados. Vencido esse desafio interno, Serra precisa se concentrar em propostas. Uma campanha que se centrar em ataques a figura do Presidente Lula será um tiro no pé, visto que sua popularidade alcança níveis estratosféricos. A atual administração deve ser simplesmente ignorada, como se não existisse. Nem ataques, nem elogios. Serra precisa ter a sabedoria de perceber que seus inimigos são Dilma e Ciro e não Lula. No momento, Ciro sobe nas pesquisas e Dilma retrocede. O maior beneficiado com isso é Serra, pois a tendência de Ciro e Dilma é lutarem pelo segundo lugar e talvez até dar ao paulistano momentos de fôlego, que devem ser aproveitados. Se há um momento em que Serra deve apresentar propostas claras para o país é esse. Enquanto Ciro e Dilma se matam e se ofendem pelo segundo lugar, Serra pode se mostrar um candidato acima do “bem e do mal” que tem um projeto de Brasil. Mas e que projeto será esse? Lula venceu as eleições de 2002 com um discurso moderado e quando tomou o poder manteve muitos dos avanços de FHC. Serra também deverá mostrar ao povo brasileiro que não é anti-lula e que não vai destruir tudo o que foi feito nesses oito anos. Se conseguiur ter sua imagem dissociada de FHC e do neoliberalismo com suas vendas de estatais e leilões suspeitos, Serra pode passar a imagem de um governante de centro. O que o povo brasileiro parece estar buscando. Assim, Serra precisa mostrar que não é a volta de FHC ou o fim de Lula, mas que representa um novo caminho sem jogar fora o que deu certo.

sábado, 22 de agosto de 2009

A crise no Senado


Mais uma vez um incidente que começou relativamente pequeno tem um desdobramento que vai muito além do que se imaginava no início. A crise no senado federal ameaça o projeto eleitoral de 2010 para o PT. A crise atual tem algumas semelhanças com a do mensalão, em 2005. Para começar, a proximidade com o ano eleitoral, pois ambas as crises antecederam o pleito presidencial em um ano. Em segundo lugar, e talvez mais marcante ainda, a questão da ética na política. Foi com a bandeira da ética que o PT chegou onde chegou e foi o questionamento da coerência da legenda no tocante a essa questão que quase derrotou Lula em 2006.
Trata-se de um dilema. É o que Max Weber chamou de ética da convicção e ética da responsabilidade. A ética da convicção consiste nas crenças do político, nas suas bandeiras, no que há de idealista na vocação desse político. Já a ética da responsabilidade se refere a interesses mais sublunares tais como governar, arrecadar, trazer o crescimento e, é claro, se manter no poder. Qualquer governo precisa de manter o equilíbrio entre essas duas "éticas".
Ao entrar no poder o PT precisou de forjar alianças para governar no legislativo, precisou de ser pragmático. Aliados históricos e bandeiras importantes foram deixados de lada em nome da governabilidade. Pragmatismo versus idealismo.
O sistema político brasileiro, chamado por alguns de presidencialismo de coalizão, tem na, quase, impossibilidade de um partido político sozinho sustentar o presidente, uma de suas características. Isso quer dizer que quem chega ao poder no executivo federal precisa de aliados. Para isso são cedidas cargos,diretorias e ministérios em uma clara compra de apoio. Existem profissionais que vivem disso, partidos inteiros que sempre são governo por que precisam dessas verdadeiras prebendas.
Enquanto a esquerda estava na oposição era mais fácil para ela criticar esse "esquema", mas uma vez no poder é necessário um certo "ajuste". A bandeira da ética na política atrai como poucas, mas também trai como todas.
O problema do partido é que seu ponto forte era também seu ponto fraco. ninguém nunca votou em um partido de direita com o argumento de que a direita era mais ética, ou seja, escandalos, acusações de corrupção ou de falta de ética afetam muito mais um partido como o PT do que uma agremiação de direita.
A inocência acabou, a esquerda foi para o poder e precisou "quebrar alguns ovos para fazer uma omelete". Na oposição é possível segurar uma bandeira com as duas mãos, mas no poder é preciso de uma mão livre para acariciar os possíveis aliados. Quem conseguir o equilibrio entre a convicção e a responsabilidade tem mais chances de conquistar e manter o poder, os dois objetivos da política segundo Maquiavél.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

África


O que faz de um povo uma grande nação? Há muitas respostas e há muitas formas de formular a mesma pergunta. Aqui terei a pretensão de arranhar o assunto, apenas arranhar. Algo muito importante para a obtenção de tal objetivo é criar tendências e não apenas segui-las. Tendências políticas, tecnológicas, culturais, no mundo das idéias, criar e não seguir apenas. Passemos para um caso concreto.
Nossas velhas Elites, criticam a atual orientação da política externa do Brasil de comercializar com outros parceiros que não apenas os tradicionais EUA e Europa. A crise mostrou ter sido esta uma decisão acertada. Mas nossas queridas oligarquias nunca enxergam seus erros, usam óculos que tem lentes de ouro e não de vidro, é assim que vêem a realidade.
Portugal estava na vanguarda quando resolveu rumar as índias e fazer o périplo africano. Não esperou que a Inglaterra ou França fosse na frente. No caso da África, Portugal esteve lá desde o século XV, e quando os outros europeus decidiram saquear o continente negro Portugal percebeu que se acomodara e por isso quase perdeu suas colônias para franceses, alemães e ingleses.
O caso hoje é outro. A África carece de investimentos em diversar áreas como infra-estrutura, indústria e comércio. Além do Brasil a China percebeu o potencial da África. O momento é esse. Ou investimos nesse continente agora e arrumamos um lugar ao sol ou fazemos como o DEMO e o PSDB desejam: Esperamos os EUA e Europa descobrir esse filão e em seguida dizemos que eles são geniais mesmo.
Quem chega primeiro pega lugar sentado.

domingo, 17 de maio de 2009

O papel das Elites no destino do Brasil


Em meados do século XX surgiu no cenário intelectual uma interessante teoria que discordava da visão marxista de uma luta simplista entre proletariado e burguesia, era a teoria das elites. Segunda essa teoria, aqui apresentada bem superficialmente, não havia uma elite monolítica, mas várias e de naturezas distintas. Elites militares, comerciantes, financeiras, políticas e outras configuravam o modelo.
No Brasil percebe-se que além de existirem várias elites elas nem sempre tinham os mesmos interesses. Vejamos um caso em particular que divide opiniões, o nacionalismo.
Em vários momentos da história política do país tivemos movimentos nacionalistas, ou simplesmente nativistas, que tentaram fazer dos interesses dos locais mais audíveis do que os dos estrangeiros. Na colônia existiu o famoso caso da inconfidência mineira, no império houve a questão Christe, já na República o movimento o petróleo é nosso, a criação das estatais, a busca por investimentos externos de JK, o tropicalismo dos anos setenta e não nos esqueçamos também de citar os fascistas tupiniquins integralistas, que bem ou mal eram nacionalistas.
Apesar de todos esses exemplos é muito mais comum lembrarmos dos entreguistas, termo atualmente caindo em desuso, mas que acho mais leve que o de traidores. Mas do outro lado os nacionalistas são genericamente chamodos de facistas, não nos esqueçamos.
Tivemos entre os entreguistas o nosso judas, Joaquim Silvério dos Reis, os sabotadores de Mauá, a UDN e atualmente o PSDB. Não incluo o Democratas como novos entreguistas porque em minha opinião eles sempre estiveram presentes na forma da elite nordestina colonial. O DEM não nasceu da derrota eleitoral de 2006 do PFL, mas sim do espírito vil que agita aqueles que são tão valentes frente ao povo e tão covardes frente aos estrangeiros. Como podemos ser uma potência regional ou até mundial se a maior parte das nossas elites ao invés de andar ou correr para o futuro rastejam diante de normas ditadas no exterior?
Esqueçamos o anacrônico coronelismo do DEM, e vejamos quem realmente pode tomar o poder e acabar como nossas aspirações a algum lugar de importância, o PSDB. O PSDB pode ser tudo, menos uma social democracia. A social democracia buscava o welfare state, estado de bem estar social e lutava contra o neoliberalismo. Não é preciso lembrar a posição dos tucanos em relação a tal tema. Como podemos aspirar a condição de potência se nossos dirigentes não assumem o papel do Brasil como líder mundial, mas se contentam com o ser um estado servil? Não é só o povo que precisa mudar, nossas elites precisam largar o entreguismo. O período colonial terminou, mas nossas elites coloniais continuam fazendo o que fazem de melhor: servir a metrópole, seja ela qual for.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O STF


O que está acontecendo? Em que mundo nosso ministros do STF vivem? O problema de quem é poderoso demais é que eles se enchem de bajuladores que não contam a eles o que as pessoas realmente pensam. Já vivemos tempos em que o judiciário era conhecido como o poder mais honesto, mais justo, mais isento. Certamente tais tempos viraram história. É com indignação que recebo a terrível notícia de que 8 dos 11 ministros do STF apoiaram Gilmar Mendes contra Joaquim Barbosa na sessão plenária de 22/04/2009. Essa geração vai ter o mérito de enterrar o bom nome que a bicentenária instituição até agora gozava. Ministros, em que mundo vocês vivem?!!! Nos respeitem! Eu os admirava, mas isso também é história. Na última vez que eu disse que o judiciário era o poder mais integro de nossa república para meus alunos eles riram; e sabe, foi a última vez que eu disse isso. Eu gostaria muito de usar argumentos racionais para justificar tudo isso, mas chega um momento na vida de um homem que ele precisa deixar a razão de lado e bufar. Estou bufando, não consigo parar de escrever, não consigo parar para pensar. Minha indignação tomou conta de mim. Judiciário, saiba, podemos não ter o povo mais politizado do mundo, mas certamente nosso povo não é o mesmo e tais atitudes não vão voltar vazias.

sábado, 18 de abril de 2009

Mente aberta


Uma coisa que ouço muito é que precisamos ter a mente aberta. Outra coisa que ouço muito é que a verdade não existe. Quem fala esse tipo de coisa são pessoas que tem um pensamento pós-moderno. O que seria isso. vamos ao primeiro ponto, a importância da mente aberta. Uma pessoa liberal (de costumes), um moderninho, vê um conservador como alguém de mentalidade tacanha, uma pessoa de mente FECHADA. Por que mente fechada? Porque sua mente se limita a certas condutas e pensamentos. vamos concretizar isso. "A", conservador, acha errado o casamento gay. "A" não consegue de jeito nenhum ver a possibilidade de um casamento gay ser correto. Por isso "A" tem a mente fechada. Já "B" acha o casamento gay correto. "B" tem a mente aberta para isso. Então "B" tem a mente aberta. Porém "B" não consegue aceitar a idéia de "A", ela é inaceitável a "B". Isso significa que "B" não está aberto a todas as idéias e a todas as pessoas, mas apenas àqueles que concordam com ele. Isso significa que "B" é um falso relativista e tem a mente tão fechada quanto "A", mas acreditando no extremo oposto.
Já sobre a inexistência da verdade, vamos lá. "A verdade não existe". É verdade que a verdade não existe? Se for verdade que a verdade não existe, então essa frase é verdade e se é verdade a verdade existe, então a verdade não existe. Por outro lado, se for mentira que a verdade não existe, então ela existe. Ou seja, a frase " a verdade não existe é inconsistente em si mesma, é um tiro no pé.
O que podemos tirar disso tudo? Esse relativismo pós-moderno tem uma lógica autofágica. vamos dar um exemplo: Viva a diversidade! Viva o diferente! Viva o índio, as lavadeiras do jequitinhonha, a Lésbica, o punk, o praticante de religiões afro-brasileiras. Viva! E aquele que não é o diferente? Abaixo o homem heterossexual cristão. Como assim? isso não é uma forma de exclusão? de excluir o incluído? vamos discriminar o "igual", o sujeito. Isso pode, só não pode discriminar o diferente. Mas espere um pouco, então não é proibido discriminar, discriminar não é feio. É feio discriminar apenas o diferente, o que não for diferente deve ser discriminado.
Quando o que era fraco torna-se forte ele destróia o que outrora era forte e então torna-se aquilo que tanto detestou: o explorador.
Nasceu a ditadura do diferente. Se em uma peça de teatro uma mulher for cruxificada nua é liberdade de expressão, já se uma imagem de candomblé for destruída é desrespeito a religiões afro-brasileiras. Quem pensa assim vê a realidade de duas formas: na primeira ele diz vamos CHOCAR esses conservadores e na segunda ele diz como alguém pode ser tão insensível de desrespeitar as crenças alheias. O que isso quer dizer? Que para os liberais algumas crenças podem ser feridas e outras não. Se você for um "diferente" parabéns, seus valores, suas crenças, sua identidade e seus sentimentos podem ser respeitados, mas se você for um "igual" você merece ser chocado e ter suas crenças, sua identidade e seus valores desrespeitados.
Desculpe, eu não aceito isso!

sábado, 11 de abril de 2009

O povo e a política


A política e o povo combinam? Ou deve-se perguntar: É importante a participação popular na vida pública? Para todos que acreditam na democracia a resposta é óbvia, sim. A democracia vai muito além do voto, embora essa seja a expressão máxima do desejo popular. Expressão máxima, mas não a única. Para o bem da democracia o povo que escolhe seus representantes deve ser o mesmo que os monitora. Não basta votar, devemos fiscalizar e não basta fiscalizar, devemos punir os maus políticos, primeiro com nossa desprovação através de e-mails e protestos e depois com a derrota destes nas urnas.
Muito se tem questionado no Brasil sobre a qualidade da classe polítíca, mas e quanto a qualidade do eleitorado brasileiro, já foi questionada? Se nós, o povo, continuarmos a culpar os políticos por todos os males do país, teremos sempre uma razão para sermos como somos. Ou mudamos o povo, por que somos o próprio povo, ou não mudaremos o nosso destino. O nosso destino está nessa mudança. Enquanto os brasileiros souberem quem venceu o Big Brother e não souberem quem é o presidente do Senado, Câmara ou STF, não poderemos culpar os políticos por gerenciarem tão mal os negócios públicos, que nós neglicenciamos primeiro.
O povo quis(emos) o poder, mas com o poder sempre vem responsabilidade.