sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cotas para negros em universidades


Existem assuntos em que uma opinião moderada é vista como a melhor forma de pensar, por representar um equilíbrio e por evitar radicalismos. Existem também questões onde é impossível uma posição conciliatória, sendo exigida dos interlocutores uma postura clara.
Dentre esses assuntos figura um tema polêmico, mas que merece a nossa atenção: as cotas para negros em universidades públicas. Devemos ter em vista, antes de mais nada, que a maioria das pessoas que discutem o assunto são sinceras em suas opiniões e convicções e que os argumentos dos dois lados tem validade.
Existem argumentos válidos e argumentos sem nexo dos dois lados da trincheira. Meu objetivo com esse pequeno post é contribuir com esse debate. Como é de se esperar, escolho um lado e o defendo, sem por isso ofender as mentes discordantes com adjetivos tais como ignorantes, canalhas, burros, cegos. São pontos de vista. Vamos então a mais uma opinião sobre o tema.
É de conhecimento geral que para o Brasil foram trazidos milhões de africanos entre os séculos XVI e o XIX com o fim de serem utilizados para toda a sorte de trabalhos. Esse trabalho era escravo e é importante ressaltar que esses africanos vieram para cá contra sua própria vontade. Ao contrário dos europeus que para cá vieram na busca de uma vida melhor, os africanos para cá trazidos, não pediram para vir, nunca é demais lembrar.
Todos os livros do mundo não abrigariam o relato de todas as maldades que foram perpetradas contra os africanos e afro-descendentes (ou simplesmente negros) que vieram para o Brasil, então tão pouco eu quero descrever os horrores que mais de trezentos anos de escravidão causaram a tantas pessoas.
Ao fim da escravidão, sobrou para essas populações escravizadas uma porteira aberta e uma pretensa liberdade, acompanhadas, quase sempre, de fome, desemprego e, muitas vezes, morte. Depois de séculos de trabalho duro sem recompensa esses negros foram despejados de seus “lares” sem nenhum direito ao fruto do que construíram.
Uma coisa que ninguém duvida é que existe uma grande dívida da sociedade brasileira para com o negro. É fato que hoje no Brasil os negros desfrutam de índices baixos de desenvolvimento social, se comparados aos brancos. Não dá para simplesmente dizer que o fator cor (e não raça) deve ser excluído dessas avaliações. Por mais que nossa sociedade não tenha uma distinção étnica tão nítida como a estadunidense o racismo existe e se manifesta em vários momentos do cotidiano. Declarar que vivemos em uma democracia racial é algo que só um “branco” que nunca sentiu na pele o que é racismo pode afirmar. Não existe democracia racial no Brasil.
Muitos dos que defendem que não deve haver cotas para negros se baseiam nessa premissa. Outros ainda dizem que se forem criadas e mantidas as cotas para negros, aí sim o racismo reinará entre nós. Isso não é verdade. O que causa o racismo no Brasil não é a segregação, mas a disparidade social. O cerne do problema é que o racismo marginaliza o negro e a marginalização do negro renova o racismo, num eterno ciclo vicioso que precisa ser rompido.
O brasileiro precisa se acostumar a ver negros advogados, médicos, dentistas, professores, etc. Isso é de fundamental importância para o combate ao racismo. Precisamos nos acostumar com isso, ver isso. Não adianta dizer que existem oportunidades iguais para todos. Não existem. A baixa auto-estima que o racismo e a miséria causaram a grandes parcelas da população negra no país são as causas, as únicas causas de os negros obterem notas menores nas escolas e conseqüentemente, nos vestibulares. A outra hipótese seria a infeliz crença na superioridade de algumas raças sobre outras. Creio que ninguém hoje advoga tal maligna doutrina.
Um argumento que se ouve muito é que o que deve ser feito é uma política de cotas para alunos provindos de colégios públicos. O que se deve ver aí, entretanto é que tal política seria uma política de combate a pobreza, sendo que as cotas de negros nas universidades públicas são claramente uma política de combate ao racismo. Por favor, não confundamos as coisas. Negros e pobres são coisas diferentes. Essa política visa a proteger e melhorar as condições de vida dos negros. Existem outras políticas de combate a pobreza essa não é uma delas.
Da mesma forma em que os negros vieram à força, sem querer, eles agora devem entrar nas universidades públicas a força. Existe essa dívida e ela deve ser paga, sob pena de perpetuarmos por mais gerações o racismo, a marginalização de muitos dos nossos brasileiros e a violência urbana.

8 comentários:

  1. Deveriam ter cotas para POBRES! Pois a grande porcentagem do efetivo das universidades públicas, pelo menos no RJ, são de pessoas de classe média/alta, pois tiveram condições de estudar em colégios bons e caros ou de fazer um bom cursinho preparatório. Os alunos das faculdades pagas são pessoas que trabalham de dia e estudam a noite, na grande maioria pessoas que sempre trabalharam e não tiveram condições de se preparar por questões de tempo e dinheiro pra um vestibular público. Raça, neste quesito, não se aplica de forma alguma.

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  2. Não creio que as coisas hoje no sec 21 se resolvam à força. Na minha opinião, se houver de fato que existir cotas, que seja para baixa renda. Cotas entres raças humanas nos denigrem, pois sugere um tratamento animal e trata os 'não-brancos' como seres incapazes de estudar e de serem aprovados em concursos de maneira igual. Se a maioria dos pobres forem 'não-branco', esta 'regrinha' os atingirá, mas creio não ser esse o foco. Todos nós temos qualidades e defeitos e somos a imagem de um mesmo Ser.

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  3. faço o meu comentario idem ao rattleheadbrasil nao tiro e nem coloco um ponto .

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  4. Querido amigo avassalador... "pura disparidade social"...
    Concordo. Adegradação do ensino publico no Brasil leva cad dia mais estudantes de qualquer cor, credo a perda de oportunidades... Quando eu era adolescente se fazi prova para entrar no Colegio Pedro II e era super disputada... hoje...nem falo sobre isso que dá tristeza.
    Cotas para negros é simplesmente ridiculo! é tapar o sol com peneira... Se eu fosse negra me sentiria humilhada em ter esse tipo de diferenciação que coloca em duvida minha capacidade diante de outros estudantes... por outro lado, estudantes com afro-descendentes na familia se apressam a declarar-se negros... a etica indo ralo a baixo...
    Se todos tivessem escola decente desde a infancia não havia esse tipo de situação vexatoria.

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  5. Obrigado por todos os comentários que, sendo contrários, foram educados e enriqueceram o debate, mostrando que a liberdade de expressão é um bem que não tem preço.

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  6. Na minha visão nao se justifica um ou mais erros com novos erros.Deve prevalescer a meritocracia,o esforço,a dedicaçao e a capacidade intelectual de cada um.Precisamos é de cotas sociais.Que adianta uma cota étnica para passar na frente e nao ter capacidade de se manter nas notas e na vocaçao profissional.Visitem meu modesto espaço http://africapaz.blogspot.com. É um humilde convite ao debate tambem.Parabens pelo espaço aqui presente.

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  7. esse é um dos assuntos mais polêmicos.. eu sou contra. totalmente.

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