sábado, 22 de agosto de 2009

A crise no Senado


Mais uma vez um incidente que começou relativamente pequeno tem um desdobramento que vai muito além do que se imaginava no início. A crise no senado federal ameaça o projeto eleitoral de 2010 para o PT. A crise atual tem algumas semelhanças com a do mensalão, em 2005. Para começar, a proximidade com o ano eleitoral, pois ambas as crises antecederam o pleito presidencial em um ano. Em segundo lugar, e talvez mais marcante ainda, a questão da ética na política. Foi com a bandeira da ética que o PT chegou onde chegou e foi o questionamento da coerência da legenda no tocante a essa questão que quase derrotou Lula em 2006.
Trata-se de um dilema. É o que Max Weber chamou de ética da convicção e ética da responsabilidade. A ética da convicção consiste nas crenças do político, nas suas bandeiras, no que há de idealista na vocação desse político. Já a ética da responsabilidade se refere a interesses mais sublunares tais como governar, arrecadar, trazer o crescimento e, é claro, se manter no poder. Qualquer governo precisa de manter o equilíbrio entre essas duas "éticas".
Ao entrar no poder o PT precisou de forjar alianças para governar no legislativo, precisou de ser pragmático. Aliados históricos e bandeiras importantes foram deixados de lada em nome da governabilidade. Pragmatismo versus idealismo.
O sistema político brasileiro, chamado por alguns de presidencialismo de coalizão, tem na, quase, impossibilidade de um partido político sozinho sustentar o presidente, uma de suas características. Isso quer dizer que quem chega ao poder no executivo federal precisa de aliados. Para isso são cedidas cargos,diretorias e ministérios em uma clara compra de apoio. Existem profissionais que vivem disso, partidos inteiros que sempre são governo por que precisam dessas verdadeiras prebendas.
Enquanto a esquerda estava na oposição era mais fácil para ela criticar esse "esquema", mas uma vez no poder é necessário um certo "ajuste". A bandeira da ética na política atrai como poucas, mas também trai como todas.
O problema do partido é que seu ponto forte era também seu ponto fraco. ninguém nunca votou em um partido de direita com o argumento de que a direita era mais ética, ou seja, escandalos, acusações de corrupção ou de falta de ética afetam muito mais um partido como o PT do que uma agremiação de direita.
A inocência acabou, a esquerda foi para o poder e precisou "quebrar alguns ovos para fazer uma omelete". Na oposição é possível segurar uma bandeira com as duas mãos, mas no poder é preciso de uma mão livre para acariciar os possíveis aliados. Quem conseguir o equilibrio entre a convicção e a responsabilidade tem mais chances de conquistar e manter o poder, os dois objetivos da política segundo Maquiavél.