sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Transgressores, bandidos ou heróis?



Nesse artigo, estou começando a escrever sem saber bem aonde vai dar. O próprio título que você leu antes de ler o texto só foi escrito no final, depois de eu ter terminado tudo. Isso quer dizer que eu ainda não sei qual é o título. Na verdade, dessa vez o título não importa, o que importa é o desabafo.
Os alemães têm uma expressão, zeitgeist, que quer dizer espírito do tempo, que retrata esse traço da natureza humana de seguir, muitas vezes cegamente, as tendências da época em que se vive. Os romanos também têm uma expressão, o tempora, o mores, que literalmente significa ó tempos (épocas) ó moral.
Qual é o espírito do nosso tempo? O que está tão próximo de nós que não conseguimos enxergar?
Talvez a maior incoerência de nosso tempo seja a pós-modernidade. A pós-modernidade, que a todos critica e a tudo desconstrói, é totalmente incompetente para desconstruir-se a si mesma. Exemplifiquemos.
Os autores pós-modernos fazem constantes elogios a todos os transgressores do planeta, a tudo o que é errado, a quebra de todas as normas. Por outro lado, vêem como inimigos, todas as autoridades e formas de governo. É como se toda a forma de governo fosse opressora.
Gostaria de ser irônico, mas vou direto ao assunto, a pós-modernidade é uma fraude. Se esses pseudo-intelectuais quisessem ser coerentes eles viveriam em uma sociedade criada por eles mesmos. Os hippies eram coerentes, detestavam o sistema e criaram outros micro-sistemas, as comunidades hippies. Já os pós-modernos, que influenciam o “pensamento” da esquerda, querem destruir importantes pilares da nossa sociedade. Vamos aos fatos.
No Brasil, a pós-modernidade se juntou ao que restou do moribundo marxismo para “iluminar” a esquerda. Vejamos o que acontece quando essa salada passa para o mundo real, mais especificamente, para a legislação criminalista.
Por ocasião da invasão do complexo do alemão, uma emissora de TV chamou um advogado criminalista para falar sobre os direitos excessivos dos presos. Vamos fazer uma pergunta óbvia, mas que para os cegos pelo zeitgeist não é tão óbvia assim, por que um estuprador ou um assassino confesso tem direito de sair da cadeia para visitar seus parentes? Alguém poderia explicar para os defensores dessa monstruosidade que a maioria desses presos não volta para a cadeia? É tão difícil entender isso? Bom, para resumir, ao advogado foi perguntado por que a lei permite tal disparate. O advogado criminalista deu duas respostas que infelizmente demonstram os sérios limites de sua formação. Primeiro ele disse que a lei era boa, mas que não era bem aplicada. Com todo o respeito, essa lei não é boa. Essa lei fere o direito das pessoas de bem serem honestas, serem pacíficas. A segunda resposta do advogado também foi bem infeliz, mas é constantemente repetida, como se todos os advogados fossem papagaios: “esse não é o momento de discutirmos sobre isso”.
Nesse momento eu paro de escrever. Coloco a mão em minha cabeça. Olho novamente para o texto. Preciso continuar.
O momento para discutirmos isso é agora! Sempre que um bandido mata uma criança ou comete qualquer outro crime bárbaro e a população exige justiça aparece algum (gostaria de dizer “algum idiota”, mas o texto se tornaria muito passional) pós-moderno, ou alguém dos direitos humanos, ou algum esquerdista, e diz que de cabeça quente não podemos discutir essa legislação.
Por favor, prestem atenção, a nossa lei penal é fraca, é ruim, é deficiente, e a solução é simples. Devemos manter os presos nas cadeias! Qualquer pessoa que não estiver sob efeito de drogas é capaz de entender isso! Perdoem-me o excesso de pontos de exclamação.
Vamos chamar os pós-modernos, os esquerdistas e os protetores dos bandidos genericamente de liberais. Por que os liberais não percebem que devemos aumentar as penas, diminuir a menoridade penal e acabar com os indultos, com todos os indultos, e com os saidões? Não tenho a resposta para essa pergunta.
A solução genial dos liberais é tão fantástica que ninguém, só eles compreendem. Consiste em soltar os bandidos e prender os policiais. É engraçado ver que as duas funções dos integrantes dos direitos humanos no Brasil são soltar bandidos e prender policiais que mataram bandidos. São mesmo genais esses liberais. Eles são os mesmos que defendem a descriminalização das drogas e depois cobram que as autoridades não fazem nada para coibir o avanço delas. Hipócritas! Vocês tiram da polícia o instrumento para agirem, depois reclamam que ela não age e se ela age vocês a denunciam como se nossos policiais, que dão a vida para proteger a liberdade que bandidos como vocês desfrutam, estivessem sempre errados.
Termino com outra pergunta. Vocês já perceberam que os liberais sempre estão do lado errado? Eles são a favor do aborto, e contra a pena de morte. Eles têm misericórdia de um traficante que queimou pessoas vivas, mas não tem mesma piedade por uma criança no ventre de sua mãe. Querem a legalização das drogas, mas reclamam que o Estado não faz nada para evitar sua disseminação ou para coibir seus danos. Querem a todo custo soltar os traficantes da cadeia, e colocar no lugar os policiais que os prenderam. Querem leis mais brandas para assassinos e estupradores, mas defendem que sejam presas pessoas que pensem diferente do credo soviético do governo. Exemplo disso é a lei da homofobia, que prende pessoas que discordem da conduta homossexual. Se essa conduta é certa ou não, não é assunto desse artigo, mas prender os religiosos, padres, pastores, e livres pensadores de forma geral, não é radical demais até para os liberais? Onde colocaríamos essas pessoas? Já sei, haverá muito lugar nas cadeias, depois que os liberais tirarem de lá os elementos de alta periculosidade. Como diria um bom liberal: “tiremos os traficantes, os estupradores e os assassinos das cadeias e coloquemos no lugar os policiais e os religiosos no lugar”.
Esse é o mundo que está sendo criado, um mundo onde tudo é invertido. É nesse mundo, cegado pela pós-modernidade e governado por loucos que vivemos nossas vidas. Até quando? Até quando deixarmos que esses insanos nos digam o que fazer e como viver, até lá, seremos governados pela tirania do relativismo moral.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

As regras existem para serem quebradas. Será?


“As regras existem para serem quebradas”. Eu não sei se em toda a história da humanidade, se entre todas as culturas, se em todas as épocas, alguém já disse uma frase mais idiota do que essa. Perdoem-me meus habituais leitores, não gosto de adjetivos tão diretos e ofensivos, prefiro a ironia, mas essa frase me tira do sério e me faz parar de pensar, apenas reajo.
Pós-modernos de plantão, as vezes as coisas são simples, são óbvias, por vezes o caminho direto é o melhor. Vejamos uma aplicação da irracionalidade (como tudo o que é pós-moderno) dessa afirmação.
Na rua da faculdade em que dou aula, choveu na noite de ontem, o que fez com que caísse um cabo de alta tensão no meio da rua. A defesa civil, os bombeiros e a PM foram chamados para resolver o problema. Uma faixa preta e amarela foi colocada para que as pessoas não passassem para não serem eletrocutadas. Era impressionante, pois era como se a faixa não estivesse ali. As pessoas levantavam a faixa e passavam do lado do cabo de alta tensão. O que aconteceria se alguém tomasse um choque e morresse?
A culpa seria imputada ao Estado. A culpa não é sempre do Estado, será que as pessoas não tem obrigação de fazer a sua parte nunca? Era tão simples a proposta da faixa: não passe por aqui e você não será eletrocutado. É tão difícil seguir uma regra?
Não ultrapasse o sinal vermelho ou você baterá o carro, não fume perto de um posto de gasolina, ou você o explodirá, não traia, ou você perderá sua namorada ou marido, ou seja lá o que for, não faça xixi numa cerca elétrica ou seu pênis pegará fogo, não mate alguém, ou irá preso (no Brasil essa não vale, se for réu primário você não vai para a cadeia, aqui é direito de todos matar uma pessoa, obrigado, direitos humanos).
Hoje existe um hedonismo selvagem que prega que tudo o que dá prazer deve ser feito. Não é tudo o que te faz bem, mas tudo o que te dá prazer. Assim, se algo te faz mal, mas te dá prazer, deve ser feito. Esse é o espírito da coisa quando as pessoas são inconseqüentes e enveredam para o mundo das drogas. É algo que faz mal, que vai matar a pessoa, mas em nome de se gozar a vida ao máximo, de ser ousado e de não ligar para regras e de ser livre...
...a pessoa se torna escravo. Escravos das drogas, escravos do álcool, escravos do cigarro, e de todo o tipo de vícios.
As regras foram feitas para nos proteger. Antes dos anos vinte, quando não existia o fascismo, como a esquerda chamava tudo aquilo com que ela não concordava? Lembrei, burguês. Desculpem-me, anarquistas, pós-modernos ou seja lá o que forem, mas regras foram feitas para serem seguidas e se forem feitas por autoridades legítimas ou se tiverem algum sentido nós devemos sim cumpri-las. Se você discorda meta a mão no cabo de alta tensão, garanto que o mundo será melhor se você fizer isso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O STF e os fariseus


Os fariseus foram uma das facções que na época de Jesus disputavam a hegemonia político-religiosa na palestina. A origem do grupo foi a resistência à opressão de reis helenísticos que tentaram implantar o paganismo grego na região e perseguiam os que mantinham a fé judaica monoteísta e sua práticas religiosas. De “heróis da resistência” os fariseus passaram a ser defensores de uma religiosidade exteriorizada, com ênfase nas regras e não no que estas representavam. Esqueceu-se do espírito das leis e passou-se a observar apenas a lei em si, como se o simples cumprimento cego de um ordenamento descontextualizado fosse o objetivo e não o meio da religião judaica. Não foi, pois, à toa que os fariseus foram o grupo que mais ataques sofreu por parte de Jesus, que dentre outros adjetivos usou “raça de víboras”. A busca pela forma e não pela essência irritava o messias.
A tentação pelo farisaísmo sempre foi uma constante entre os membros do judiciário. Ministros, juízes, e advogados muitas vezes evitam a justiça em prol das leis, que deveriam ser o meio para se conquistar essa mesma justiça e não a grande finalidade do sistema judiciário.
O princípio da segurança jurídica deveria servir para impedir que cidadãos de bem fossem acossados por um Estado autoritário, mas ao invés disso serve para preservar direitos, bens e liberdades daqueles que pilham o erário, quebram as leis e debocham do povo.
Esse é um país onde se soltam bandidos no natal para aterrorizar pessoas de bem, onde os adolescentes protegidos são os malfeitores e não os adolescentes vítimas, onde banqueiros que fraudam o sistema financeiro são inocentados e onde políticos que roubam e são pegos não vão pra trás das grades. Enganam-se quem pensa que só os ricos saem livres, a impunidade está presente de cima a baixo. Esse é o país da impunidade e o ser honesto é o grande crime. Nesse país onde criminosos se escondem por trás de leis que foram feitas para os proteger, onde os fariseus há muito se esqueceram qual é o espíritos da lei e da justiça, ser honesto não é mais uma obrigação. Na verdade, o honesto tem outro nome: otário. Nesse país quem cumpre a lei e ama a o andar corretamente é tido como o responsável pela sua própria ruína. Se um carro é roubado a culpa é do dono que foi imprudente e não do bandido, que provavelmente já foi preso outras vezes, mas foi solto, porque como sabemos os direitos a serem respeitados são os do bandido e não o seu ou o meu.
Nesse contexto de banalização da desonestidade, corrupção, assassinato, estupro e todo tipo de ilegalidade e imoralidade que se encontra nesse país adormecido, existe a possibilidade que deveria ser inimaginável de certos políticos que deveriam estar atrás das grades poderem se candidatar a cargos eletivos.
A tese é que a lei da ficha suja não vale para essas eleições e que a lei não retroage para prejudicar ninguém, mas apenas para favorecer. Entendamos bem o caso. No momento em que a lei deixou de ameaçar certas autoridades poderosas ela passou a ser respeitada. Enquanto a lei serviu para colocar na cadeia pessoas que são acusadas de crimes eleitorais, de desvio de dinheiro, de má gestão, de falsidade ideológica, de roubo de cargas, de estelionato e de tantas outras sujeiradas não se viu empenho em cumpri-la. Agora, porém que há a possibilidade de que esses inimigos da República e do povo brasileiro saiam tão impunes quanto entraram a lei pode não ser cumprida a risca. É claro, a parte que os beneficie apenas. Não a parte do “não roube”, mas apenas a parte do “a lei só vale para o próximo pleito”. E adivinhem porque isso? Porque existem ministros do STF que conseguem conceber o inconcebível, que a lei deve proteger quem destrói e pilha o país. A mesma lei que não foi aplicada na hora de punir pode ser aplicada na hora de inocentar o culpado. Essa é a interpretação de alguns dos doutores da lei, que em tanto se assemelham aos fariseus por ignorarem totalmente a essência em detrimento da forma.
É triste ver que certos ministros do STF coincidentemente estão sempre do lado dos bandidos. Sempre votando pelo habeas corpus de conhecidos contraventores e que por inúmeras razões sempre dão acolhida a argumentos de notórios criminosos. Esperemos que haja justiça divina, pois aqui na terra nem sempre as expectativas são boas. Já os céus, por outro lado, não gostam de fariseus e nem daqueles que por estes são inocentados. Que o STF nos surpreenda e revele que é mais apegado a justiça que é a essência do que ao legalismo formal que deveria ser o meio para se alcançar o fim, mas tornou-se a disfunção do judiciário. Viva a justiça, abaixo os fariseus do judiciário.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Imigração e xenofobia


Quando era mais jovem, tinha convicções tão fortes que tinha certeza de que nunca mudaria de idéia. Percebo hoje que é possível mudar de idéia, trocar de posição e mesmo assim continuar sendo uma pessoa coerente. Mudar de idéia é saudável, se for motivado por uma renovação da nossa mente baseada em novas informações ou novos pontos de vista. É bem diferente de quem muda de idéia por que lhe é conveniente, como é o caso de políticos que vestem novas máscaras de acordo com a conjuntura.
No caso concreto que colocarei aqui se trata de uma revisão da minha opinião, ao mesmo tempo que de um ponto de vista polêmico. Não polêmico em si, mas polêmico por que o autor dessa opinião provém do sul do planeta e não do norte. Vamos direto ao ponto.
Imigração e xenofobia. Não é um assunto tão simples e não encontrará uma resposta definitiva, nem nesse texto e nem em outro qualquer. Como não vou concorrer a um posto eletivo posso colocar minha opinião sincera e conclamo os que discordarem de mim de educadamente postarem no meu blog, esse é um espaço onde o autor ama a liberdade.
A xenofobia é justificável? Estamos acostumados a respostas fáceis que exaltam a diversidade cultural, étnica e a liberdade de ir e vir. Todos esses valores são legítimos e defensáveis, mas, paradoxalmente, servem para muitas vezes permitirem a entrada nos países ocidentais de populações que não partilham desses valores que os permitiram migrar. Esse artigo não trata de defender a xenofobia, mas de admitir que a resposta não é tão fácil assim.
Cada dia que passa o islã cresce na Europa. É fácil para latino-americanos como nós ignorarmos as conseqüências dessa migração, pois o nosso hemisfério não passa por tal processo. É o único lugar da terra onde o islã não cresce muito, embora cresça.
Recentemente, em um discurso sobre a imigração não só muçulmana, mas de todo o mundo, na Nova Zelândia, o primeiro ministro do país insular argumentou que os imigrantes que para lá iam, incluindo latino-americanos, tentavam muitas vezes impor seus costumes e não aprendiam a língua local. Muitos reclamavam de crucifixos nas paredes, da comida e da língua inglesa. Coerentemente o primeiro ministro declarou que quem quisesse ficar no país deveria, não perder a identidade, mas respeitar a cultura dos antigos habitantes. Antes de continuar quero colocar que não ignoro o fato de os ingleses terem invadido a Oceania e não respeitado os costumes dos aborígenes. Como foi dito, esse tema é espinhoso e seria agir de má fé crer que exista um entendimento absoluto sobre ele ou encontrar alguém que esteja inteiramente com a razão.
Se no meu país viesse uma leva de pessoas com uma cultura diferente da minha eu também ficaria alarmado. Não nos esqueçamos que aconteceu em nossa história de leis proibirem ou inibir a imigração para nosso país quando o número de estrangeiros pareceu alto o suficiente para os nossos avós.
Que fique bem claro que não estou defendendo atividades violentas ou grupos neonazistas, mas apesar da existência desses grupos extremistas, a restrição a migração não é tão sem sentido assim.
Pensemos por exemplo no que acontecerá quando a França tiver mais muçulmanos do que agnósticos (eles não são mais cristãos). Pensemos numa França islâmica e com armas nucleares. Parece alarmista demais, mas será realidade em três décadas. Posso estar enganado e espero estar, mas não quero ver o país que nos legou a revolução francesa ser atingido por uma revolução aos moldes da iraniana. Que o ocidente está em acelerada decadência não é mistério para ninguém e eu, particularmente não estou chorando por eles, mas compreendo-os no sentido de que se minha cultura corresse o risco de desaparecer eu também tentaria evitar. Com baixíssimas taxas de natalidade os europeus estão perdendo essa verdadeira jihad demográfica. Que bom que não somos nós a entrar em declínio.
Para finalizar pensemos em quão contraditório é que grupos libertários ocidentais defendam a migração de grupos conservadores que irão destruir as próprias idéias liberais que os albergaram. Muitos dos novos pensadores libertários estão incluindo a xenofobia na sua carteira de idéias. Mundo estranho esse!!!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Internet, Opinião e cala a boca Galvão



É pacífico que a internet revolucionou o mundo. Nenhum pensador sério ousa discordar disso. Essa revolução causada pelo desenvolvimento de mais essa tecnologia está presente em várias esferas. Dentre essas esferas podemos citar a acadêmica, no sentido de tornar artigos de universidades acessíveis a todos, o comércio (e-commerce), o correio eletrônico e outras não tão nobres como a proliferação da pornografia e particularmente da criminosa pedofilia.
Dentre essas muitas mudanças que a internet trouxe, uma se faz especialmente sentida, a quebra do monopólio da Televisão sobre as opiniões. Na verdade nunca existiu um tal monopólio, mas a rainha TV sempre precisou disputar com jornais, revistas, livros, universidades, escolas, igrejas e com a própria opinião das pessoas. O que chama a atenção, no entanto é que em uma disputa entre a TV e a internet podemos vislumbrar derrotas da primeira, algo impensável até pouco tempo atrás.
Todos sabemos que para a consolidação da democracia, se faz necessário, dentre outros requisitos, o exercício da liberdade de pensamento e de expressão. Nesse sentido a TV, assim como outros ramos da mídia tem papel paradoxal. Ao mesmo tempo em que exerce seu direito expondo sua opinião (a dos repórteres, autores de seriados e novelas e, é claro, os donos e acionistas das emissoras), a imprensa livre também passa como um trator pela opinião dos que não tem meios para expressa-la. Seria ingênuo acreditar que apenas cérebro e boca são indispensáveis para que uma idéia seja apresentada e ouvida por outros.
Assim sendo, tira-se do Estado o monopólio do pensamento, da verdade e também da opinião e o entrega aos conglomerados da comunicação. O que a internet tem feito, e isso tem irritado muito aos velhos “senhores da opinião”, é justamente abrir canais para que outros possam ser ouvidos. Nesse sentido, existem sites, blogs, twitter e outros.
É aqui que entra o caso “cala a boca Galvão”. Todos sabem que a Rede Globo tem por tradição exercer o domínio ou até mesmo o monopólio sobre as informações que chegam aos brasileiros. Depois de o grupo O Globo, seja na figura do jornal O Globo ou da temida e admirada Rede Globo de Televisão, ser contra a política de industrialização de Getúlio Vargas, da construção de Brasília, a favor da ditadura militar e da eleição de Collor, e de ser corresponsável por tantos outros disparates, a emissora ficou conhecida como poderosa demais para ser vencida.
Aconteceu, no entanto, que após uma queda de braço com o técnico da seleção, Dunga, houve mais uma queda de prestígio da emissora. Lançada nacional, e o que é mais espantoso, internacionalmente, por twitteiros brasileiros, a campanha “cala a boca Galvão” rodou o mundo todo, mostrando que o país não agüenta mais esse monopólio da narração esportiva por esse que é um dos “queridinhos” da Globo. Quando apareceram os meios, as vozes discordantes falaram tão alto que foi impossível não se ouvir o clamor.
O que a queda de braço, referida acima, com Dunga trouxe não foi a campanha “cala a boca Galvão”, mas o novo “cala a boca Tadeu Schmidt”. As duas espontâneas campanhas dos twitteiros mostraram que existe uma grande oposição a ditadura do pensamento que a emissora exerce em nosso país e foi justamente a internet que deu os meios para que ela acontecesse. É como se de repente todos dissessem, “então não é só eu que pensa assim!”.
Apenas para relembrar o ocorrido, Dunga se negou a dar tratamento preferencial aos repórteres da Rede Globo e por isso foi chamado à atenção em um editorial do Fantástico, no domingo. É pouco provável que Dunga não resistisse à pressão e agisse como boa parte dos demais brasileiros que por covardia, fascínio ou ignorância tratam de ter na bajulação da emissora uma regra de vida. Independente da coragem do nosso técnico o que ficou patente é que nem todo o nosso povo é amorfo, hedonista e blasé e se revoltou quando teve meios para isso. O “cala a boca Galvão” e o “cala a boca Tadeu Schimdt” também deve ser interpretado como um “cala a boca Rede Globo”.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Brasil é um país moralista?




Não gosto de escrever posts relatando coisas que aconteceram na minha vida, ou de transformar esse blog em um desabafo, mas na sala dos professores da faculdade em que eu dou aula surgiu um assunto interessante que eu gostaria de compartilhar com meus leitores. Era um assunto um pouco polêmico e que na verdade não teria o merecido tempo de debate no nosso pequeno intervalo. Se tratava da seguinte afirmação: “O Brasil é um país moralista”.
Em primeiro lugar, devemos definir os termos usados no nosso pequeno debate. Ao longo da história ocidental, inúmeros foram os filósofos que estudaram e conceituaram o que é moralidade. Uma definição interessante, talvez a mais aceita, é que moral é o que impede o forte de destruir o fraco. Tendo essa definição em vista podemos chegar a duas conclusões básicas.
Primeiro, uma sociedade não subsiste sem a moral, é simplesmente impossível. Imaginemos um país sem polícia, sem leis. Os roubos, assassinatos e estupros seriam infinitamente mais comuns do que são e até os grupos libertários, que insistem em demonizar o Estado seu “aparelho repressivo” aprenderiam que ser iconoclasta está longe de resolver alguma coisa. A solução seria criar grupos que defendessem-se a si próprios. Olha a moralidade nascendo de novo, porém, menos eficiente. Não dá para prescindir da moral, ela impede mais males do que cria.
Em segundo lugar, podemos perceber que o que os filósofos e pensadores definem como moral está muito longe do que o que nós concebemos como moral no cotidiano. No nosso mundo “pop” e pós-moderno de soluções fáceis e conhecimento midiático mais valorizado do que o acadêmico, quem define o que é moral são pessoas como Nelson Rodrigues, Faustão e Carla Perez.
Não me importo de afirmar que Nelson Rodrigues, o messias dos teatrólogos, era seriamente afetado por um problema grave de desconfiança das pessoas. Os pessimistas que me perdoem, mas eu me recuso a acreditar que todas as pessoas sejam tão doentias como os personagens do escritor. O que os inimigos da “família burguesa”, como chamam os libertários, deram de bom a nossa sociedade? Hoje nós desconfiamos de todo mundo. Não creio que a humanidade seja tão boa quanto gostaria que, mas também não creio que é tão má. Na verdade, isso é uma crença minha, penso que os filmes brasileiros dos anos 70 contribuíram para nos dar uma sociedade muito pior, onde você trai por que “sabe” que uma hora chegará a ser traído.
Sei que esse post é polêmico e que certamente serei chamado de falso moralista, mas antes de algum leitor desavisado me chamar assim, vamos ver o que realmente quer dizer os termos que ofendem aos conservadores. Como já vimos o que é moralista em parágrafos passados, e a palavra "falso" todo mundo sabe o que é, cheguemos ao significado de hipócrita, que é usado como sinônimo de moralista pelos telespectadores das novelas da Rede Globo.
Hipócrita quer dizer “máscara de teatro”, em uma tradução mais livre. É quando a pessoa diz uma coisa e faz outra. É só isso. Repito, apenas isso. Ao contrário do que os grupos libertários ou apenas os incautos hedonistas podem pensar, hipócrita não é pura e simplesmente o moralista, mas sim aquele moralista que tem vida dupla ou até mesmo aquele libertário que também não é coerente com seu discurso, como por exemplo uma pessoa que tem a vida promíscua abertamente, mas que vai a igreja em secreto. A hipocrisia atinge os dois lados, não foi feita apenas para os “moralistas”, termo, aliás, mal empregado, como já foi dito.
Em defesa da moralidade sexual, agora sim, do tipo de moralidade que Nelson Rodrigues e a novela das oito condenam, também tenho algumas palavras. A falta de moralidade sexual pode ser fruto do nosso egoísmo e prejudicar seriamente as pessoas com as quais nós nos importamos. É um sentimento masculino comum querer ser o “pegador”, mas quem quer que o próprio pai, quando casado com a mãe do sujeito da ação, seja um “pegador”? Se queremos ter uma família estruturada, por que não podemos fazer uma família estruturada para nossos filhos? Se não queremos ser traídos, porque traímos? Por que essa é uma era de egoísmo e o hedonismo, ideologia que diz que o prazer é o principal objetivo da vida das pessoas. Esse tipo de comportamento, porém, machuca quem nós amamos, na medida em que nós faz viver de forma inconseqüentemente.
Sei que a maioria das pessoas não vai concordar com nada do que está escrito aqui, mas se eu quisesse agradar as pessoas eu escreveria novelas. Não nego o desejo, não sou maluco, mas pensar nos outros é muito mais do que dar sestas básicas para quem você não conhece, é também, respeitar quem você conhece. Desculpem-me se esse texto não exalta a leviandade, a malandragem, o carnaval e o adultério, valores de muitos brasileiros, mas ainda creio que uma família estruturada pode ajudar muito na felicidade das pessoas contempladas por ela. Se crer na família me faz hipócrita, chamem-me de hipócrita, mas o façam depois de já saberem o que quer dizer a palavra hipócrita e não depois de verem a mais um capítulo de Manuel Carlos.
É difícil para nós, depois de décadas de novelas da Rede Globo e de pornochancadas pensar diferente, mas o simples entendimento dos termos pode nos levar a reflexões mais relevantes do que nos atermos a estereótipos globais como a beata má e a prostituta boa.
Agora, colegas de trabalho, agradeço por me inspirarem a escrever esse texto. E como foi dito na sala dos professores, para responder a pergunta do título: Não, o Brasil não é um país moralista. O Afeganistão é um país moralista, a Arábia Saudita e o Irã são países moralistas, os EUA no século XIX era uma país moralista, mas países como Brasil e Holanda estão tão longe da moralidade sexual (para o bem ou para o mal, aqui não há juízo de valor) quanto o Pará está da neve.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A última chance do Irã


Definitivamente, os tempos estão mudando. Até o presente momento, as negociações entre Brasil, Turquia e Irã parecem estar tendo um inesperado sucesso. O Irã, acusado pelo ocidente de planejar desenvolver um programa nuclear com fins militares, aceitou enriquecer seu urânio na Turquia, até uma porcentagem que os impediria de desenvolver armas nucleares.
Talvez o mais surpreendente desse acordo não seja a posição do Irã, que agora parece aceitar o enriquecimento do urânio fora de suas fronteiras, mas sim os protagonistas envolvidos. O fato de em uma negociação internacional tão importante ter excluído qualquer ator ocidental, demonstra que o balanço de forças no mundo está mudando.
Os críticos do acordo têm razão em terem cautela sobre os reais resultados deste, afinal, Teerã já retrocedeu a acordos anteriores. Apesar disso, a ausência do ocidente nas negociações parece ser o verdadeiro motivo desse ceticismo. Os últimos acontecimentos têm demonstra a mudança no mundo e os líderes desses países têm reagido como cientes disso.
As críticas e o ceticismo não precisam necessariamente virem juntas. Ceticismo pode vir acompanhado de esperança, mas ao invés disso os membros europeus do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha desprezaram o resultado do encontro dos três países. Faz sentido pedir-se um acordo e quando ele é concretizado desprezá-lo? Tais comentários podem ser vistos mais como mesquinhos e até invejosos do que como céticos. Um comportamento mais saudável foi o do almirante norte-americano James Stavridis, que viu esperança em uma solução diplomática, apesar de crer que a “nós temos um milhão de milhas pela frente” ainda. Posição equilibrada. Ceticismo e esperança.
Antes da sentida ausência ocidental, teve lugar o fracasso desses países em imporem sua vontade e a falta de autoridade moral, visto serem quase todos possuidores de armas nucleares. Não é de se admirar do fracasso dos países ricos, pois depois de invadirem dois países muçulmanos, Afeganistão e Iraque, isso sem contar com cem anos de imperialismo no Oriente Médio (o tempo é maior, mas estou contanto apenas do fim do império turco otomano, logo após a I Guerra mundial) estranho seria se o Irã confiasse em europeus e norte-americanos.
É de se notar que tudo isso acontece no mesmo momento em que a Grécia ameaça quebrar a promessa do Euro e que o Brasil empresta dinheiro (pouco, é verdade) para o pacote do FMI para salvar a Europa. Como aconteceu em Roma, na Antiguidade, até a natureza ajuda a acentuar o declínio europeu com a erupção do vulcão islandês que trouxe prejuízos de bilhões de euros, ops, acho melhor contabilizar em dólares, de bilhões de dólares à aviação e à economia européia em geral.
Resta agora saber se Mahmoud Ahmadinejad será pragmático o suficiente para evitar a guerra e o sofrimento do seu povo aproveitando essa oportunidade única de sair pela porta da frente, com dignidade. Se cumprir o acordo, o Irã será poupado da destruição e ainda dará um tapa de luva na cara da diplomacia ocidental que ficará conhecida, nesse episódio, como sendo truculenta e ineficiente, além de coroar o Brasil e a Turquia como novos players. Além de desmoralizar o ocidente, ansioso por mais uma guerra, aumentar o poder dos países emergentes e salvar seu povo de muito sofrimento, cumprir o acordo também dará uma oportunidade de sair de cabeça erguida, como quem diz: “agora que pediu por favor eu faço, só faltava a palavrinha mágica”. Mas se Ahmadinejad insistir em enriquecer o urânio em seu país, nas suas centrífugas, ele atrairá a guerra, destruirá o regime teocrático xiita e terá uma boa razão para o ocidente sair disso tudo como o campeão de uma guerra justa. Na segunda hipótese o ocidente vence e os emergentes perdem, principalmente Brasil e Turquia, mas quem perde mesmo é o povo do Irã. Mais do que nunca, a paz é um bom negócio, torçamos por ela.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Política brasileira: novos temas e novos atores


O cenário político brasileiro está se diversificando, está se modificando. Com a ascensão da economia brasileira e a mudança nos costumes e na religiosidade do país, a tendência é que surjam novos atores e outros adormecidos reapareçam.
Quando se fala em política, no nosso país, se pensa automaticamente em como a economia será conduzida. A principal issue é se o Estado deve intervir muito ou pouco. Em outros países a política é algo mais amplo. Nos EUA, por exemplo, a política externa e as moral issues, questões morais, como aborto, casamento gay, eutanásia recebem importância especial.
Nos próximos anos é possível que justamente nessas duas áreas, a política internacional e as moral issues recebam mais atenção na formulação das agendas políticas e eleitorais no nosso país. Vejamos o porquê de tudo isso.
Nesse governo, aconteceram três coisas muito interessantes: a economia brasileira cresceu; a crise internacional diminuiu o poder econômico e por extensão militar de muitos países ocidentais, como a Inglaterra, por exemplo, obrigada a abaixar o orçamento militar; e o Presidente Lula se mostrou extremamente carismático e amado no exterior. Esses três fatores combinados deram a esse governo uma projeção internacional muito grande, de modo que o Presidente Lula é considerado por muitos o maior estadista que o Brasil já teve.
É, aliás, um grande erro da campanha de Dilma Rousseff não investir nesse filão. Se a pré-candidata petista se ligar ao Presidente não só na imagem de boa gestora, mas também na de estadista, levará o voto dos nacionalistas.
Esse nacionalismo tende a crescer se os bons resultados da economia e da diplomacia continuarem. Prova disso é o lançamento do filme “Segurança Nacional”, onde a Abin tenta impedir um ato terrorista contra o SIVAM. No filme, o presidente é um cara durão que comanda um país com caças e serviço secreto. É interessante vermos o nosso país num filme nosso em que nossas instituições não são ridicularizadas, como costuma fazer nossos geniais cineastas. Para o bem da pátria, claro.
Além da política externa, vemos também o aparecimento de uma arena nas moral issues, chamadas em português de “Questões Morais”. Isso se dá por que os atores envolvidos nessas questões cresceram dos dois lados. De um lado o movimento GLS, ou GLBTT, que por causa do espaço recebido da mídia tem atraído a simpatia de muitos, aliados a grupos feministas, afro-brasileiros e “libertários” de uma forma geral. É a nova esquerda.
Percebe-se também o aumento das igrejas evangélicos e de seu capital eleitoral. A própria existência de leis anticristãs (termo evangélico) ou libertárias (termo libertário) já é um fator de legitimação para a existência da bancada evangélica. A existência dessas leis deve, paradoxalmente, aumentar a presença evangélica na política, além de manter os católicos no páreo. Nunca é demais lembrar que os libertários conseguiram o que nenhum ecumênico estava conseguindo: juntar católicos e evangélicos no mesmo barco, segurando a mesma bandeira e “amando-se mutuamente”.
Aparentemente nessas eleições essas mudanças não vão se fazer ainda. Não no nível presidencial, mas no legislativo é capaz de uma pequena amostra dessas tendências começarem a aparecer. A imprensa e os presidenciáveis não perceberam ainda a potencialidade eleitoral dessas mudanças, mas com o passar do tempo poderemos assistir a um aumento do leque do que é considerado um legítimo tema político. A política no Brasil parece estar ficando mais ampla e muito mais interessante também.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O PNDH-3 e suas contribuições para o nascimento de uma nova direita


Poucas são as vezes em que se vê na política uma jogada tão de mestre que até os adversários são obrigados a ficar quietos por causa do risco de se prejudicarem mais ainda. Exemplo disso foi o golpe da maioridade que os liberais deram no período regencial, durante o Brasil monárquico. Nosso futuro soberano, que ainda não tinha idade para reinar, foi elevado de delfim para imperador pelo grupo dos liberais. Parece uma jogada simples, mas o que há de genial nela é que ninguém podia se interpor ao “golpe da maioridade”, porque era questão de tempo para que Dom Pedro II se tornasse imperador, sendo então incerto o futuro político de tais opositores. Assim os conservadores se viram obrigados a apoiar a manobra política que, ironicamente, daria o poder aos seus oponentes.
Também não é tão comum que certas jogadas gerem um resultado tão diverso do inesperado. Exemplo desse caso foi a tentativa da implantação do Plano Nacional dos Direitos Humanos, o PNDH-3.
A um só tempo o governo conseguiu juntar todos os seus inimigos em uma causa comum e até unir antigos desafetos contra si. O que permitiu isso foi a grande abrangência do documento. O PNDH-3 trata de coisas tão distintas como a invasão de terras, a proteção de minorias e o fim dos símbolos religiosos em repartições públicas. O presidente deveria se lembrar que o que derrubou a República Velha e elevou Getúlio a chefe do executivo foi justamente a existência de muitos inimigos, que apesar de depois abandonarem o caudilho, encontraram na destruição do sistema político oligárquico uma causa única.
Analisemos, pois, alguns dos atores dessa nova direita nascente. Por que falo de uma nova direita se ela é de fato tão velha em nosso país? Porque aqui se trata do casamento de antigas tendências políticas e sociais conservadoras com um novo ator, a bancada evangélica. A conversão de milhões de pessoas ao protestantismo está alterando drasticamente a configuração religiosa brasileira. Das grandes religiões do nosso país, a evangélica é a única que rejeita totalmente o sincretismo e é a que é mais firme no tocante ao combate a promiscuidade e outras formas de desvios sexuais.
Essa nova força política tem se aliado constantemente a grupos conservadores e sobretudo aos católicos, nem tanto pelas afinidades com os aliados, mas principalmente pelas diferenças que tem com os grupos “libertários”. Os chamados libertários, que como exemplo citamos os movimentos GLBTT, as abortivas, as feministas dentre outros, formaram uma aliança, aparentemente inquebrantável, com a velha esquerda. Libertários e trabalhadores trabalhando juntos carregando a bandeira dos excluídos (mas também a dos marginalizados e a dos transgressores).
No PNDH-3 essa aliança é explícita e o muito abraçar mostrou-se novamente pouco afagar, na medida em que a amplitude do documento mexeu com muita gente diferente. Assim, todo o trabalho de décadas que a esquerda teve de provar aos cristãos, e nesse caso mais específico aos evangélicos, que a esquerda não era anticristã está começando a ir por água abaixo. É a própria esquerda que está jogando os evangélicos para a direita.
O estrago só não é maior para a esquerda por causa da inabilidade da direita brasileira de obter dividendos políticos com isso. Enquanto o DEM tem uma política mais clara quanto as “questões morais”, Moral Issues, o PSDB não toma uma atitude clara sobre o assunto. Os tucanos são direita, mas carregam a ilusão de pensar que enganam alguém quando fingem que são de esquerda. Esse dilema existencial do partido só o enfraquece. O povo não tolera a fraqueza e a indecisão. A chamada social democracia brasileira, tem fama de direita naquilo que o povo não admite mais, a não intervenção do Estado na economia e a venda das estatais, mas não é capaz de dizer claramente a que lado pertence em questões morais quando FHC faz vigorosos apelos em prol da liberalização da maconha e Arthur Virgílio apóia o aborto. Se o PSDB continuar nessa indefinição, nessa sua eterna busca por identidade irá perder votos de conservadores e “progressistas” (detesto esse termo tendencioso). Numa eleição esse é o pior dos mundos.
Esse governo só não sofre uma derrota mais humilhante no caso do PNHD-3 por causa da falta de habilidade da oposição de catalisar os danos. Será, sábio da parte desse governo se não repetir a façanha de juntar na mesma arena evangélicos, católicos, ruralistas, militares, imprensa e empresários contra si mesmo. E será sábia a oposição se finalmente se assumir conservadora e evitar ambigüidades que aos olhos do eleitor denotam incoerência ideológica.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Arruda, Roriz e a intervenção federal


Muito se tem dito sobre o chamado mensalão do DEM e sobre a corrupção dos políticos de Brasília. Nós brasilienses temos o costume de revidar as acusações de que a cidade é um covil de ladrões dizendo que são os de fora que nos enviam a corja. O problema é que no caso do executivo e do legislativo do DF não há como nos defender, estamos entre os piores.
Não há quem pensa que o DEM é um partido se santos, mas no DF todos sabem (e inexplicavelmente ainda votam) que é no PMDB que reside o problema. Gosto de pensar que conterrâneos são cúmplices, comparsas, se entendem com um olhar. Bem, como esse post é mais destinado a pessoas que moram fora da capital, convém explicar o que acontece aqui.
Brasília era governada por um governador biônico, ou seja, indicado pelo presidente, e por uma comissão no Senado Federal. A cidade era uma pequena ilha da fantasia, afastada da miséria da maior parte do país com uma periferia que dista quilômetros do centro, mas com o envio de boa parte da renda do país.
Na época da presidência de José Sarney, este resolveu nomear Roriz como governador do DF. Roriz é um típico político coronelista, clientelista e patrimonialista, desses que envergonham aqueles que se identificam com a direita clássica. De família tradicional latifundiária, rapidamente Roriz percebeu como se perpetuar no poder. Ao tirar pessoas das ruas (na época existiam poucos moradores de rua em Brasília) e de lugares desfavorecidos da periferia do DF, as chamadas cidades satélites, e realocá-las em cidades construídas por ele, Roriz criou uma clientela.
O problema todo foi que Roriz, após usar terras públicas (a maior parte das terras do DF são da União ou do DF, públicas, portanto) na construção da moradia de milhares de pessoas carentes, percebeu o potencial eleitoral que essas clientelas que formara representavam e por trás dos panos incentivou a invasão dessas mesmas terras públicas. Se formou então uma verdadeira máfia de grileiros que foram eleitos por essas populações recém-chegadas (a maioria das pessoas do DF vem de fora ou é filha de pessoas de fora, Brasília tem poucos netos).
Se há alguém lugar em que se possa dizer que a direita é totalmente corrupta é no legislativo do DF. Essa malta foi criada nos tempos do coronel Joaquim Domingos Roriz, um homem que nem seus eleitores são capazes de chamar de honesto. É o famoso “rouba, mas faz”. O pior é que não faz. O legado de Roriz foi o inchaço de Brasília, que causou o aumento espantoso da criminalidade, e a completa degradação moral do legislativo do DF.
O ideal seria que Arruda ao sair levasse junto Roriz. O que espanta os brasilienses honestos é a possibilidade de prendermos Jack, o estripador e soltarmos Adolf Hitler, ou seja, não podemos prender Arruda e permitir que um dos últimos coronéis do país seja solto. Esse esquema de corrupção começou no governo passado e como qualquer brasiliense sabe (até seus eleitores) o titio Roriz dá aulas de corrupção a qualquer um, além de gerir mal a coisa pública, inchar a cidade, traficar terras públicas, encher o DF de cargos comissionados ocupados por funcionários fantasmas, ser truculento e cometer crimes eleitorais.
E o final do título desse post a intervenção federal? Por que deve haver intervenção federal? Porque só sobraria para o judiciário o governo do DF, mas o TJDFT também está incluso nessa mesma panela. Não todo ele, isso deve ser dito e repetido, na verdade uma minoria, mas minoria representativa, pois Roriz foi absolvido de crime eleitoral quando se acharam urnas adulteradas em um terreno baldio.
Roriz foi o grande inventor dessa máfia que governa o DF e agora, no PSC, quer voltar ao poder e provavelmente vai usar o discurso da moralidade. Confesso que tenho três esperanças: 1) Roriz é preso por corrupção, por ter inventado o mensalão do DF; 2) Roriz perde as eleições 2010 por ter seus eleitores se regenerado e tomado vergonha na cara; 3) Roriz, que já não está tão jovem assim, morre e vai prestar contas com o criador, que ao contrário do TJDFT não é leniente com a corrupção e não tem medo de ninguém.
Até lá espero pela intervenção federal para começar tudo de novo. Isso sim seria um indício de uma intervenção divina em Brasília, lugar tão carente de novos começos

domingo, 24 de janeiro de 2010

VEJA e a crise Brasil-EUA no Haiti


Jornalismo livre é algo difícil de existir e sua problemática está até no conceituar tal expressão. Se considerarmos jornalismo livre como sendo a liberdade do jornalista de emitir opiniões independentes, devemos ter em conta que este precisa prestar contas a seu veículo, seja jornal impresso, TV, ou até site. Alguns veículos imprimem sua marca de tal forma sobre os seus jornalistas que quando surge um assunto já se sabe qual será a posição das reportagens. A vantagem de se escrever em um blog é justamente a extrema liberdade que se ganha.
O Brasil e os EUA estão, diante da tragédia do terremoto do Haiti, disputando a liderança da administração da ajuda humanitária e ,principalmente, a segurança na área arrasada. Apesar de liderar a missão de paz da ONU na ilha caribenha, a minustah, o contingente do Brasil foi ultrapassado pelo dos EUA em termos numéricos.
Qualquer um sabe que esse não é o momento de se mostrar mesquinho, toda ajuda é bem-vinda e até necessária. O grande problema é que os norte-americanos estão agindo como se fossem os legítimos líderes dos esforços humanitários. Enquanto os cubanos abriram o espaço aéreo para aeronaves norte-americanas se apressarem em chegar a ilha arrasada, os EUA monopolizaram um aeroporto haitiano inteiro e se sentiram no direito de impedir a chegada de aviões com suprimentos, desviando-os para a República dominicana. Os desmandos estão nesse patamar.
Como era de se esperar, o Itamaraty e o governo dos EUA estão entrando em uma discreta contenda diplomática. O Brasil está a muito tempo na região, conhece melhor o país e conta com ampla simpatia da população, sem contar com o mandato da ONU.
Onde o jornalismo livre entra nisso? Frente a tal conflito de interesses e a urgência em se agir para que se evite uma tragédia ainda maior como se deve comportar um jornalista e um veículo de comunicação? Talvez seja ingenuidade dizer que com isenção, mas nunca é demais desejá-la.
Quando me deparei com uma reportagem da VEJA falando sobre tal questão, não me espantei com esse jogo de cartas marcadas. A revista não esconde sua antipatia pelo atual presidente e, portanto, rejeita cada passo dado pelo governo, tanto em políticas de governo quanto em políticas de Estado. Certo jornalista da revista VEJA, ao tratar do assunto argumentou que esse era o momento de o Brasil somar forças com os EUA e segui-lo na tarefa de reconstrução do Haiti. O jornalista criticou fortemente o governo brasileiro por não seguir a velha fórmula do alinhamento automático que não nos levou a lugar algum. Para certas pessoas que tiveram suas idéias forjadas na dinâmica da Guerra Fria é inconcebível outra postura além de seguir ou enfrentar os EUA.
O grande problema disso tudo é que ninguém se surpreende de ler na VEJA o conselho de o Brasil largar suas aspirações a nação soberana para voltar a ser um preposto colonial. Não é de surpreender ninguém a posição subalterna que a revista VEJA deseja para o país, o que surpreende mesmo é que essa nova versão do “Tribuna da imprensa”, jornal do nada saudoso Carlos Lacerda, o demolidor de presidentes, venda tanto.
Pelo menos uma vez a revista VEJA poderia ficar do nosso lado ao invés de alimentar esse grande complexo de inferioridade que nossa nação ainda ostenta.