terça-feira, 29 de junho de 2010

Internet, Opinião e cala a boca Galvão



É pacífico que a internet revolucionou o mundo. Nenhum pensador sério ousa discordar disso. Essa revolução causada pelo desenvolvimento de mais essa tecnologia está presente em várias esferas. Dentre essas esferas podemos citar a acadêmica, no sentido de tornar artigos de universidades acessíveis a todos, o comércio (e-commerce), o correio eletrônico e outras não tão nobres como a proliferação da pornografia e particularmente da criminosa pedofilia.
Dentre essas muitas mudanças que a internet trouxe, uma se faz especialmente sentida, a quebra do monopólio da Televisão sobre as opiniões. Na verdade nunca existiu um tal monopólio, mas a rainha TV sempre precisou disputar com jornais, revistas, livros, universidades, escolas, igrejas e com a própria opinião das pessoas. O que chama a atenção, no entanto é que em uma disputa entre a TV e a internet podemos vislumbrar derrotas da primeira, algo impensável até pouco tempo atrás.
Todos sabemos que para a consolidação da democracia, se faz necessário, dentre outros requisitos, o exercício da liberdade de pensamento e de expressão. Nesse sentido a TV, assim como outros ramos da mídia tem papel paradoxal. Ao mesmo tempo em que exerce seu direito expondo sua opinião (a dos repórteres, autores de seriados e novelas e, é claro, os donos e acionistas das emissoras), a imprensa livre também passa como um trator pela opinião dos que não tem meios para expressa-la. Seria ingênuo acreditar que apenas cérebro e boca são indispensáveis para que uma idéia seja apresentada e ouvida por outros.
Assim sendo, tira-se do Estado o monopólio do pensamento, da verdade e também da opinião e o entrega aos conglomerados da comunicação. O que a internet tem feito, e isso tem irritado muito aos velhos “senhores da opinião”, é justamente abrir canais para que outros possam ser ouvidos. Nesse sentido, existem sites, blogs, twitter e outros.
É aqui que entra o caso “cala a boca Galvão”. Todos sabem que a Rede Globo tem por tradição exercer o domínio ou até mesmo o monopólio sobre as informações que chegam aos brasileiros. Depois de o grupo O Globo, seja na figura do jornal O Globo ou da temida e admirada Rede Globo de Televisão, ser contra a política de industrialização de Getúlio Vargas, da construção de Brasília, a favor da ditadura militar e da eleição de Collor, e de ser corresponsável por tantos outros disparates, a emissora ficou conhecida como poderosa demais para ser vencida.
Aconteceu, no entanto, que após uma queda de braço com o técnico da seleção, Dunga, houve mais uma queda de prestígio da emissora. Lançada nacional, e o que é mais espantoso, internacionalmente, por twitteiros brasileiros, a campanha “cala a boca Galvão” rodou o mundo todo, mostrando que o país não agüenta mais esse monopólio da narração esportiva por esse que é um dos “queridinhos” da Globo. Quando apareceram os meios, as vozes discordantes falaram tão alto que foi impossível não se ouvir o clamor.
O que a queda de braço, referida acima, com Dunga trouxe não foi a campanha “cala a boca Galvão”, mas o novo “cala a boca Tadeu Schmidt”. As duas espontâneas campanhas dos twitteiros mostraram que existe uma grande oposição a ditadura do pensamento que a emissora exerce em nosso país e foi justamente a internet que deu os meios para que ela acontecesse. É como se de repente todos dissessem, “então não é só eu que pensa assim!”.
Apenas para relembrar o ocorrido, Dunga se negou a dar tratamento preferencial aos repórteres da Rede Globo e por isso foi chamado à atenção em um editorial do Fantástico, no domingo. É pouco provável que Dunga não resistisse à pressão e agisse como boa parte dos demais brasileiros que por covardia, fascínio ou ignorância tratam de ter na bajulação da emissora uma regra de vida. Independente da coragem do nosso técnico o que ficou patente é que nem todo o nosso povo é amorfo, hedonista e blasé e se revoltou quando teve meios para isso. O “cala a boca Galvão” e o “cala a boca Tadeu Schimdt” também deve ser interpretado como um “cala a boca Rede Globo”.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Brasil é um país moralista?




Não gosto de escrever posts relatando coisas que aconteceram na minha vida, ou de transformar esse blog em um desabafo, mas na sala dos professores da faculdade em que eu dou aula surgiu um assunto interessante que eu gostaria de compartilhar com meus leitores. Era um assunto um pouco polêmico e que na verdade não teria o merecido tempo de debate no nosso pequeno intervalo. Se tratava da seguinte afirmação: “O Brasil é um país moralista”.
Em primeiro lugar, devemos definir os termos usados no nosso pequeno debate. Ao longo da história ocidental, inúmeros foram os filósofos que estudaram e conceituaram o que é moralidade. Uma definição interessante, talvez a mais aceita, é que moral é o que impede o forte de destruir o fraco. Tendo essa definição em vista podemos chegar a duas conclusões básicas.
Primeiro, uma sociedade não subsiste sem a moral, é simplesmente impossível. Imaginemos um país sem polícia, sem leis. Os roubos, assassinatos e estupros seriam infinitamente mais comuns do que são e até os grupos libertários, que insistem em demonizar o Estado seu “aparelho repressivo” aprenderiam que ser iconoclasta está longe de resolver alguma coisa. A solução seria criar grupos que defendessem-se a si próprios. Olha a moralidade nascendo de novo, porém, menos eficiente. Não dá para prescindir da moral, ela impede mais males do que cria.
Em segundo lugar, podemos perceber que o que os filósofos e pensadores definem como moral está muito longe do que o que nós concebemos como moral no cotidiano. No nosso mundo “pop” e pós-moderno de soluções fáceis e conhecimento midiático mais valorizado do que o acadêmico, quem define o que é moral são pessoas como Nelson Rodrigues, Faustão e Carla Perez.
Não me importo de afirmar que Nelson Rodrigues, o messias dos teatrólogos, era seriamente afetado por um problema grave de desconfiança das pessoas. Os pessimistas que me perdoem, mas eu me recuso a acreditar que todas as pessoas sejam tão doentias como os personagens do escritor. O que os inimigos da “família burguesa”, como chamam os libertários, deram de bom a nossa sociedade? Hoje nós desconfiamos de todo mundo. Não creio que a humanidade seja tão boa quanto gostaria que, mas também não creio que é tão má. Na verdade, isso é uma crença minha, penso que os filmes brasileiros dos anos 70 contribuíram para nos dar uma sociedade muito pior, onde você trai por que “sabe” que uma hora chegará a ser traído.
Sei que esse post é polêmico e que certamente serei chamado de falso moralista, mas antes de algum leitor desavisado me chamar assim, vamos ver o que realmente quer dizer os termos que ofendem aos conservadores. Como já vimos o que é moralista em parágrafos passados, e a palavra "falso" todo mundo sabe o que é, cheguemos ao significado de hipócrita, que é usado como sinônimo de moralista pelos telespectadores das novelas da Rede Globo.
Hipócrita quer dizer “máscara de teatro”, em uma tradução mais livre. É quando a pessoa diz uma coisa e faz outra. É só isso. Repito, apenas isso. Ao contrário do que os grupos libertários ou apenas os incautos hedonistas podem pensar, hipócrita não é pura e simplesmente o moralista, mas sim aquele moralista que tem vida dupla ou até mesmo aquele libertário que também não é coerente com seu discurso, como por exemplo uma pessoa que tem a vida promíscua abertamente, mas que vai a igreja em secreto. A hipocrisia atinge os dois lados, não foi feita apenas para os “moralistas”, termo, aliás, mal empregado, como já foi dito.
Em defesa da moralidade sexual, agora sim, do tipo de moralidade que Nelson Rodrigues e a novela das oito condenam, também tenho algumas palavras. A falta de moralidade sexual pode ser fruto do nosso egoísmo e prejudicar seriamente as pessoas com as quais nós nos importamos. É um sentimento masculino comum querer ser o “pegador”, mas quem quer que o próprio pai, quando casado com a mãe do sujeito da ação, seja um “pegador”? Se queremos ter uma família estruturada, por que não podemos fazer uma família estruturada para nossos filhos? Se não queremos ser traídos, porque traímos? Por que essa é uma era de egoísmo e o hedonismo, ideologia que diz que o prazer é o principal objetivo da vida das pessoas. Esse tipo de comportamento, porém, machuca quem nós amamos, na medida em que nós faz viver de forma inconseqüentemente.
Sei que a maioria das pessoas não vai concordar com nada do que está escrito aqui, mas se eu quisesse agradar as pessoas eu escreveria novelas. Não nego o desejo, não sou maluco, mas pensar nos outros é muito mais do que dar sestas básicas para quem você não conhece, é também, respeitar quem você conhece. Desculpem-me se esse texto não exalta a leviandade, a malandragem, o carnaval e o adultério, valores de muitos brasileiros, mas ainda creio que uma família estruturada pode ajudar muito na felicidade das pessoas contempladas por ela. Se crer na família me faz hipócrita, chamem-me de hipócrita, mas o façam depois de já saberem o que quer dizer a palavra hipócrita e não depois de verem a mais um capítulo de Manuel Carlos.
É difícil para nós, depois de décadas de novelas da Rede Globo e de pornochancadas pensar diferente, mas o simples entendimento dos termos pode nos levar a reflexões mais relevantes do que nos atermos a estereótipos globais como a beata má e a prostituta boa.
Agora, colegas de trabalho, agradeço por me inspirarem a escrever esse texto. E como foi dito na sala dos professores, para responder a pergunta do título: Não, o Brasil não é um país moralista. O Afeganistão é um país moralista, a Arábia Saudita e o Irã são países moralistas, os EUA no século XIX era uma país moralista, mas países como Brasil e Holanda estão tão longe da moralidade sexual (para o bem ou para o mal, aqui não há juízo de valor) quanto o Pará está da neve.