quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Brasil é um país moralista?




Não gosto de escrever posts relatando coisas que aconteceram na minha vida, ou de transformar esse blog em um desabafo, mas na sala dos professores da faculdade em que eu dou aula surgiu um assunto interessante que eu gostaria de compartilhar com meus leitores. Era um assunto um pouco polêmico e que na verdade não teria o merecido tempo de debate no nosso pequeno intervalo. Se tratava da seguinte afirmação: “O Brasil é um país moralista”.
Em primeiro lugar, devemos definir os termos usados no nosso pequeno debate. Ao longo da história ocidental, inúmeros foram os filósofos que estudaram e conceituaram o que é moralidade. Uma definição interessante, talvez a mais aceita, é que moral é o que impede o forte de destruir o fraco. Tendo essa definição em vista podemos chegar a duas conclusões básicas.
Primeiro, uma sociedade não subsiste sem a moral, é simplesmente impossível. Imaginemos um país sem polícia, sem leis. Os roubos, assassinatos e estupros seriam infinitamente mais comuns do que são e até os grupos libertários, que insistem em demonizar o Estado seu “aparelho repressivo” aprenderiam que ser iconoclasta está longe de resolver alguma coisa. A solução seria criar grupos que defendessem-se a si próprios. Olha a moralidade nascendo de novo, porém, menos eficiente. Não dá para prescindir da moral, ela impede mais males do que cria.
Em segundo lugar, podemos perceber que o que os filósofos e pensadores definem como moral está muito longe do que o que nós concebemos como moral no cotidiano. No nosso mundo “pop” e pós-moderno de soluções fáceis e conhecimento midiático mais valorizado do que o acadêmico, quem define o que é moral são pessoas como Nelson Rodrigues, Faustão e Carla Perez.
Não me importo de afirmar que Nelson Rodrigues, o messias dos teatrólogos, era seriamente afetado por um problema grave de desconfiança das pessoas. Os pessimistas que me perdoem, mas eu me recuso a acreditar que todas as pessoas sejam tão doentias como os personagens do escritor. O que os inimigos da “família burguesa”, como chamam os libertários, deram de bom a nossa sociedade? Hoje nós desconfiamos de todo mundo. Não creio que a humanidade seja tão boa quanto gostaria que, mas também não creio que é tão má. Na verdade, isso é uma crença minha, penso que os filmes brasileiros dos anos 70 contribuíram para nos dar uma sociedade muito pior, onde você trai por que “sabe” que uma hora chegará a ser traído.
Sei que esse post é polêmico e que certamente serei chamado de falso moralista, mas antes de algum leitor desavisado me chamar assim, vamos ver o que realmente quer dizer os termos que ofendem aos conservadores. Como já vimos o que é moralista em parágrafos passados, e a palavra "falso" todo mundo sabe o que é, cheguemos ao significado de hipócrita, que é usado como sinônimo de moralista pelos telespectadores das novelas da Rede Globo.
Hipócrita quer dizer “máscara de teatro”, em uma tradução mais livre. É quando a pessoa diz uma coisa e faz outra. É só isso. Repito, apenas isso. Ao contrário do que os grupos libertários ou apenas os incautos hedonistas podem pensar, hipócrita não é pura e simplesmente o moralista, mas sim aquele moralista que tem vida dupla ou até mesmo aquele libertário que também não é coerente com seu discurso, como por exemplo uma pessoa que tem a vida promíscua abertamente, mas que vai a igreja em secreto. A hipocrisia atinge os dois lados, não foi feita apenas para os “moralistas”, termo, aliás, mal empregado, como já foi dito.
Em defesa da moralidade sexual, agora sim, do tipo de moralidade que Nelson Rodrigues e a novela das oito condenam, também tenho algumas palavras. A falta de moralidade sexual pode ser fruto do nosso egoísmo e prejudicar seriamente as pessoas com as quais nós nos importamos. É um sentimento masculino comum querer ser o “pegador”, mas quem quer que o próprio pai, quando casado com a mãe do sujeito da ação, seja um “pegador”? Se queremos ter uma família estruturada, por que não podemos fazer uma família estruturada para nossos filhos? Se não queremos ser traídos, porque traímos? Por que essa é uma era de egoísmo e o hedonismo, ideologia que diz que o prazer é o principal objetivo da vida das pessoas. Esse tipo de comportamento, porém, machuca quem nós amamos, na medida em que nós faz viver de forma inconseqüentemente.
Sei que a maioria das pessoas não vai concordar com nada do que está escrito aqui, mas se eu quisesse agradar as pessoas eu escreveria novelas. Não nego o desejo, não sou maluco, mas pensar nos outros é muito mais do que dar sestas básicas para quem você não conhece, é também, respeitar quem você conhece. Desculpem-me se esse texto não exalta a leviandade, a malandragem, o carnaval e o adultério, valores de muitos brasileiros, mas ainda creio que uma família estruturada pode ajudar muito na felicidade das pessoas contempladas por ela. Se crer na família me faz hipócrita, chamem-me de hipócrita, mas o façam depois de já saberem o que quer dizer a palavra hipócrita e não depois de verem a mais um capítulo de Manuel Carlos.
É difícil para nós, depois de décadas de novelas da Rede Globo e de pornochancadas pensar diferente, mas o simples entendimento dos termos pode nos levar a reflexões mais relevantes do que nos atermos a estereótipos globais como a beata má e a prostituta boa.
Agora, colegas de trabalho, agradeço por me inspirarem a escrever esse texto. E como foi dito na sala dos professores, para responder a pergunta do título: Não, o Brasil não é um país moralista. O Afeganistão é um país moralista, a Arábia Saudita e o Irã são países moralistas, os EUA no século XIX era uma país moralista, mas países como Brasil e Holanda estão tão longe da moralidade sexual (para o bem ou para o mal, aqui não há juízo de valor) quanto o Pará está da neve.

9 comentários:

  1. a realidade e bem diferente que possa imaginar....

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  2. Eu li o começo e o final do seu texto.Bom.se a moral é o que foi definido o brasil é meio moralista(pseudo-moralista é mais chique ).As pessoas se divertem com essas novelas e com o carnaval(que tem pedofilia envolvida,por que criancinhas "se vestem" do mesmo jeito que as adultas e todo mundo filma e acha bunito)mas criticam e até matam mulheres do tipo Geyse Arruda

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  3. Apesar do Brasil ser conhecido como um país liberal em que impera a sexualidade e a malandragem, os brasileiros ainda são moralistas em sua maioria. Exemplos não faltam como o fato de nunca uma novela ter exibido um beijo gay ou mesmo o caso de políticos que por serem solteiros são questionados, enfim, acho que o Brasil é muito moralista.

    Ah, visite também o Mídia Cidadã

    http://midiacidada.blogspot.com

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    1. acho o conceito de liberal muito engraçado..Se impera a sexualidade e malandragem nao é moral???O moralismo esta no juizo que se faz de questoes diversas..esse juizo nao tem necessariamente que corresponder a pratica.

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  4. Somos conduzidos a sermos moralistas. A mídia brasileiro é moralista, vide as propagandas que são "censuradas". Vou seguir seu blog, bacana.

    Acesse meu blog:

    www.vacavesga.com.br

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  5. Acho que esse é mais um caso infectado por um senhor contemporâneo nosso, o 'Politicamente Correto'. Moralismo, falso moralismo, hipocrisia... chamem como quiserem, são apenas formas de mascarar a verdade e camuflar atos impregnados de pseudo-valores-éticos. Enfim...

    Vi o link do teu blog numa comunidade do orkut. Tu levantas boas questões aqui. Tô seguindo.
    Dá uma olhada depois: http://herondecarvalho.blogspot.com/

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  6. O problema do país é que vivemos sob níveis mínimos de moralidade mesmo. E quem tenta se moldar pra tentar ser diferente é taxado de falso moralista exatamente por isso, não tem mais volta.
    E quanto a Nelson Rodrigues, acho que tudo aquilo era um quadro pintado a tintas fortes da realidade, nada mais.

    Bom post. Parabéns.

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    1. tentar se moldar a que amigo?????Onde voçe acha que devemos pegar os moldes da moralidade...Abraço.

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