
É pacífico que a internet revolucionou o mundo. Nenhum pensador sério ousa discordar disso. Essa revolução causada pelo desenvolvimento de mais essa tecnologia está presente em várias esferas. Dentre essas esferas podemos citar a acadêmica, no sentido de tornar artigos de universidades acessíveis a todos, o comércio (e-commerce), o correio eletrônico e outras não tão nobres como a proliferação da pornografia e particularmente da criminosa pedofilia.
Dentre essas muitas mudanças que a internet trouxe, uma se faz especialmente sentida, a quebra do monopólio da Televisão sobre as opiniões. Na verdade nunca existiu um tal monopólio, mas a rainha TV sempre precisou disputar com jornais, revistas, livros, universidades, escolas, igrejas e com a própria opinião das pessoas. O que chama a atenção, no entanto é que em uma disputa entre a TV e a internet podemos vislumbrar derrotas da primeira, algo impensável até pouco tempo atrás.
Todos sabemos que para a consolidação da democracia, se faz necessário, dentre outros requisitos, o exercício da liberdade de pensamento e de expressão. Nesse sentido a TV, assim como outros ramos da mídia tem papel paradoxal. Ao mesmo tempo em que exerce seu direito expondo sua opinião (a dos repórteres, autores de seriados e novelas e, é claro, os donos e acionistas das emissoras), a imprensa livre também passa como um trator pela opinião dos que não tem meios para expressa-la. Seria ingênuo acreditar que apenas cérebro e boca são indispensáveis para que uma idéia seja apresentada e ouvida por outros.
Assim sendo, tira-se do Estado o monopólio do pensamento, da verdade e também da opinião e o entrega aos conglomerados da comunicação. O que a internet tem feito, e isso tem irritado muito aos velhos “senhores da opinião”, é justamente abrir canais para que outros possam ser ouvidos. Nesse sentido, existem sites, blogs, twitter e outros.
É aqui que entra o caso “cala a boca Galvão”. Todos sabem que a Rede Globo tem por tradição exercer o domínio ou até mesmo o monopólio sobre as informações que chegam aos brasileiros. Depois de o grupo O Globo, seja na figura do jornal O Globo ou da temida e admirada Rede Globo de Televisão, ser contra a política de industrialização de Getúlio Vargas, da construção de Brasília, a favor da ditadura militar e da eleição de Collor, e de ser corresponsável por tantos outros disparates, a emissora ficou conhecida como poderosa demais para ser vencida.
Aconteceu, no entanto, que após uma queda de braço com o técnico da seleção, Dunga, houve mais uma queda de prestígio da emissora. Lançada nacional, e o que é mais espantoso, internacionalmente, por twitteiros brasileiros, a campanha “cala a boca Galvão” rodou o mundo todo, mostrando que o país não agüenta mais esse monopólio da narração esportiva por esse que é um dos “queridinhos” da Globo. Quando apareceram os meios, as vozes discordantes falaram tão alto que foi impossível não se ouvir o clamor.
O que a queda de braço, referida acima, com Dunga trouxe não foi a campanha “cala a boca Galvão”, mas o novo “cala a boca Tadeu Schmidt”. As duas espontâneas campanhas dos twitteiros mostraram que existe uma grande oposição a ditadura do pensamento que a emissora exerce em nosso país e foi justamente a internet que deu os meios para que ela acontecesse. É como se de repente todos dissessem, “então não é só eu que pensa assim!”.
Apenas para relembrar o ocorrido, Dunga se negou a dar tratamento preferencial aos repórteres da Rede Globo e por isso foi chamado à atenção em um editorial do Fantástico, no domingo. É pouco provável que Dunga não resistisse à pressão e agisse como boa parte dos demais brasileiros que por covardia, fascínio ou ignorância tratam de ter na bajulação da emissora uma regra de vida. Independente da coragem do nosso técnico o que ficou patente é que nem todo o nosso povo é amorfo, hedonista e blasé e se revoltou quando teve meios para isso. O “cala a boca Galvão” e o “cala a boca Tadeu Schimdt” também deve ser interpretado como um “cala a boca Rede Globo”.