
Definitivamente, os tempos estão mudando. Até o presente momento, as negociações entre Brasil, Turquia e Irã parecem estar tendo um inesperado sucesso. O Irã, acusado pelo ocidente de planejar desenvolver um programa nuclear com fins militares, aceitou enriquecer seu urânio na Turquia, até uma porcentagem que os impediria de desenvolver armas nucleares.
Talvez o mais surpreendente desse acordo não seja a posição do Irã, que agora parece aceitar o enriquecimento do urânio fora de suas fronteiras, mas sim os protagonistas envolvidos. O fato de em uma negociação internacional tão importante ter excluído qualquer ator ocidental, demonstra que o balanço de forças no mundo está mudando.
Os críticos do acordo têm razão em terem cautela sobre os reais resultados deste, afinal, Teerã já retrocedeu a acordos anteriores. Apesar disso, a ausência do ocidente nas negociações parece ser o verdadeiro motivo desse ceticismo. Os últimos acontecimentos têm demonstra a mudança no mundo e os líderes desses países têm reagido como cientes disso.
As críticas e o ceticismo não precisam necessariamente virem juntas. Ceticismo pode vir acompanhado de esperança, mas ao invés disso os membros europeus do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha desprezaram o resultado do encontro dos três países. Faz sentido pedir-se um acordo e quando ele é concretizado desprezá-lo? Tais comentários podem ser vistos mais como mesquinhos e até invejosos do que como céticos. Um comportamento mais saudável foi o do almirante norte-americano James Stavridis, que viu esperança em uma solução diplomática, apesar de crer que a “nós temos um milhão de milhas pela frente” ainda. Posição equilibrada. Ceticismo e esperança.
Antes da sentida ausência ocidental, teve lugar o fracasso desses países em imporem sua vontade e a falta de autoridade moral, visto serem quase todos possuidores de armas nucleares. Não é de se admirar do fracasso dos países ricos, pois depois de invadirem dois países muçulmanos, Afeganistão e Iraque, isso sem contar com cem anos de imperialismo no Oriente Médio (o tempo é maior, mas estou contanto apenas do fim do império turco otomano, logo após a I Guerra mundial) estranho seria se o Irã confiasse em europeus e norte-americanos.
É de se notar que tudo isso acontece no mesmo momento em que a Grécia ameaça quebrar a promessa do Euro e que o Brasil empresta dinheiro (pouco, é verdade) para o pacote do FMI para salvar a Europa. Como aconteceu em Roma, na Antiguidade, até a natureza ajuda a acentuar o declínio europeu com a erupção do vulcão islandês que trouxe prejuízos de bilhões de euros, ops, acho melhor contabilizar em dólares, de bilhões de dólares à aviação e à economia européia em geral.
Resta agora saber se Mahmoud Ahmadinejad será pragmático o suficiente para evitar a guerra e o sofrimento do seu povo aproveitando essa oportunidade única de sair pela porta da frente, com dignidade. Se cumprir o acordo, o Irã será poupado da destruição e ainda dará um tapa de luva na cara da diplomacia ocidental que ficará conhecida, nesse episódio, como sendo truculenta e ineficiente, além de coroar o Brasil e a Turquia como novos players. Além de desmoralizar o ocidente, ansioso por mais uma guerra, aumentar o poder dos países emergentes e salvar seu povo de muito sofrimento, cumprir o acordo também dará uma oportunidade de sair de cabeça erguida, como quem diz: “agora que pediu por favor eu faço, só faltava a palavrinha mágica”. Mas se Ahmadinejad insistir em enriquecer o urânio em seu país, nas suas centrífugas, ele atrairá a guerra, destruirá o regime teocrático xiita e terá uma boa razão para o ocidente sair disso tudo como o campeão de uma guerra justa. Na segunda hipótese o ocidente vence e os emergentes perdem, principalmente Brasil e Turquia, mas quem perde mesmo é o povo do Irã. Mais do que nunca, a paz é um bom negócio, torçamos por ela.