
O Brasil está assistindo o nascimento de um novo tipo de mártires, as mártires da bunda. Há alguns meses uma aluna de uma faculdade particular, Gleyci foi hostilizada por usar um vestido curto. Bem curto. Muito se falou dos agressores, mostrados como selvagens intolerantes, mas pouco ou nada se falou da inconveniência das roupas da moça num ambiente universitário. Não é se de estranhar que em um país onde programas de auditório formam mais a opinião do que livros, quem dite o comportamento dentro de uma universidade seja um apresentador de TV e não um diretor de faculdade.
A outra mártir que apareceu foi a professora Jaqueline, em Salvador. Uma professora de educação infantil, que deixaria Carla Perez envergonhada com sua dança, é a mais nova atração dos programas de auditório. O despreparo dos apresentadores de TV no Brasil demonstram bem por que o país está tão atrás em matéria de ensino e cultura. Será difícil entender que uma professora de ensino infantil não pode aparecer mostrando a calcinha em com um homem a puxando (a calcinha) para cima? Parece que para os apresentadores de TV dos programas de auditório é sim muito difícil entender isso.
Existem condutas que são inconvenientes para algumas profissões. Uma professora não pode ficar expondo publicamente o seu corpo; isso não é hipocrisia, isso é proteger as crianças para quem ela está dando aula. Existem lugares em que não se pode entrar de bermuda ou de saia curta. Isso não é falso moralismo, é saber separar as coisas. O hedonismo brasileiro se mostra doentio e inconseqüente, na medida em que tenta passar por cima de tudo e não respeita nada
Qual a origem disso no Brasil? Talvez a única instituição sagrada ao sul dos trópicos: o sexo. Qualquer um que ousar desafiar o sexo livre no Brasil é logo taxado de hipócrita ou de falso moralista. Por mais escandaloso que seja qualquer comportamento este deve ser respeitado.
Interessante foi ver uma estranha manifestação de estudantes da UnB, em sua maioria provenientes das ciências humanas, que lutavam pelo direito de Gleyci usar sua microsaia. As mesmas feministas que acusam os homens de explorar o corpo da mulher estavam lá protestando pelo direito da mulher de ela mesma explorar seu corpo. Parece que tem gente que nasceu para reclamar.
O que esses dois acontecimentos têm em comum? Ensino e sexualidade. Uma aluna, Gleyci e uma professora, Jaqueline. Duas mártires e dois vilões: os diretores de faculdade e de escola. É claro que num país como o Brasil, pobre, não se recursos, mas de espírito em um embate entre educadores e dançarinas, saem perdendo os educadores. Estudar é coisa de nerd e combater a ignorância é coisa de falso moralista. Balanço geral: prováveis processos contra duas instituições de ensino que não se curvaram a mediocridade e duas prováveis capas da playboy.